Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
Pesquisa da Genial/Quaest revelou que 98% dos agentes financeiros consideram que a política econômica do Brasil está indo na direção errada. Qual é a evidência para tal crença? Estrategistas, não importa em qual área, só pode tomar decisão com base em evidências. Quando assim não ocorre, a ideologia e a crença orientam a decisão. Por consequência, elas podes conduzir o ator ao erro.
Se um candidato me indaga sobre as suas chances de vitória ou qual estratégia colocar em prática, sempre sugiro pesquisa. É ela que traz as evidências advindas das falas dos eleitores e que possibilitarão a construção da estratégia, a qual tende a ser eficiente em virtude de ser construída sobre o alicerce da boa metodologia, ou melhor, da ciência. Considero também, após ouvir atentamente eleitores e candidato, a conjuntura política. Portanto, com boa pesquisa mais análise de conjuntura, adquiro condições de definir a estratégia ótima.
A ideologia é um valor de foro íntimo. Eu a tenho, você, certamente, também tem. Mas ela não pode entrar comigo na sala de aula e nem servir de premissa básica para aconselhar um político ou empresário que me pede um conselho ou estratégia. A ideologia fica bem guardada comigo. Existem momentos para que eu possa expressá-la. Não é porque um político tem ideologia diferente da minha que vou aconselhá-lo para a derrocada. Atores solicitam conselhos ou orientações porque não sabem o que fazer ou estão em dúvida.
Se você entrega as suas economias a um agente financeiro, a sua expectativa é que ele as distribua em aplicações que lhe tragam o maior rendimento. Para isto, você acredita, previamente, que ele tem capacidade de desenvolver eficazmente análises de conjunturas econômica e política. A sua expectativa é que o agente da corretora de investimentos ou do banco lide com o seu dinheiro com bastante evidências e sem ideologia. Se ele lidará com as minhas economias dividindo o Brasil entre Lula versus Bolsonaro, certamente, terei prejuízo, ou melhor: perderei, em breve, dinheiro.
Por que o mercado prefere Bolsonaro a Lula? Não sei as razões objetivas. No governo Bolsonaro, impostos sobre os combustíveis foram reduzidos. O pagamentos dos precatórios adiados. Desoneração de vários setores da economia aconteceu. Crédito consignado foi ofertado à população que recebia o Bolsa Família. O teto fiscal, instituído no governo Temer, foi drasticamente desrespeitado. À época da Covid-19, vacinas não foram compradas no tempo devido. Por consequência, milhares de mortes e lentidão para a recuperação econômica. Soma-se os ataques às instituições, os quais provocaram crises e minaram a credibilidade do Brasil no exterior.
É claro que o presidente Lula erra ao criticar Roberto Campos, presidente do Banco Central. Todavia, o atual chefe do Executivo sabe pressionar e em seguida estender a mão. Vejam que em paralelo a insatisfação do presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentará, em abril, nova proposta de arcabouço fiscal, a qual tem o objetivo de mostrar ao mercado a responsabilidade fiscal do governo. No segundo semestre, proposta de reforma tributária será apresentada. Portanto, por que não confiar na política econômica do governo Lula?
As eras Lula são evidências fortes de que Lula não pratica o suicídio econômico. Foram governos com responsabilidade fiscal e controle da inflação. E mais: nas eras Lula, o aumento do emprego e do consumo com inclusão social aconteceu. Nas eras Lula, as instituições foram e estão sendo respeitadas, assim como a democracia. Portanto, crises não estão no radar. Além disto, no governo Lula cabem todos, da reeleição de Artur Lira, a deputados do PL, partido do ex-presidente da República.
Vislumbro crises econômica e política no governo Lula? Mais uma vez: procuro evidências e não as encontro. Cisnes negros podem aparecer, como um grande escândalo de corrupção, ou a nomeação de um ministro da Fazenda que proponha o fim das metas da inflação, perda da independência do Banco Central, e a desoneração de todos os combustíveis. Mas repito: estes eventos são cisnes negros. Ou seja: são possibilidades sem força diante do que já foi observado nas eras Lula.
Na pesquisa da Genial/Quaest, 78% dos agentes financeiros acreditam que a economia do Brasil piorará. Por quê? É esta previsão que está inserida na mente dos agentes econômicos que vão orientar você a garantir reservas para a sua aposentadoria. As evidências mostradas neste artigo não permitem tal opinião. Certamente, diante deste pessimismo, os agentes vão apostar em juros mais altos ou em compra de ações de empresas para vendas em curto prazo. Eles desprezarão o que está por vir caso o novo ordenamento fiscal e a reforma Tributária sejam aprovados: crescimento econômico sustentado com inclusão social, razoável inflação e queda dos juros. Seguirei, solitariamente, fazendo as minhas aplicações sem a ideologia dos agentes financeiros.