Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 39 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
A defesa de uma tese requer interpretação científica do dado advindo da sociedade. O achismo representa a defesa do desejo e da paixão. Então, a defesa da tese é exercício científico. A defesa do querer é ato apaixonado. Políticos e estrategistas sábios são guiados por teses. Políticos e estrategistas guiados pelo desejo são apaixonados pela candidatura ou pelo candidato. A interpretação da conjuntura eleitoral requer a validação ou a falsificação de teses. Com isto, estratégias eleitorais eficazes são construídas.
Três teses sobre as eleições presidenciais foram apresentadas ao universo midiático após as manifestações de junho de 2013. A primeira proposição foi que os levantes de junho representavam intensa inquietação social. Neste caso, eleitores estavam insatisfeitos e sinalizavam, através das manifestações, que não mais desejavam reeleger Dilma. Foi previsto, inclusive, que intensas manifestações ocorreriam durante a Copa do Mundo. As manifestações de 2013 proporcionaram o surgimento da segunda tese, qual seja: os eleitores brasileiros, majoritariamente, desejavam mudança.
Diversas pesquisas de opinião realizadas no primeiro semestre de 2014 mostraram isto. Entretanto, enquanto a mudança era verbalizada pela maioria dos eleitores, Dilma continuava a liderar as pesquisas eleitorais. Deste modo, era necessária interpretação sofisticada e parcimoniosa do desejo de mudança expresso pelos sufragistas.
A terceira tese era que a realização da Copa do Mundo e a desorganização da infraestrutura ofertada aos turistas e brasileiros intensificariam inquietações sociais que seriam expressas por manifestações. Em razão disto, a competividade dos presidenciáveis sofreria alteração. Neste caso, Dilma declinaria, e Aécio e Eduardo conquistariam eleitores. Pesquisa realizada pelo instituto Datafolha divulgada em 03 de julho revela que Dilma continua a liderar a corrida presidencial, com 38% de intenções de voto. Aécio tem 20% e Eduardo, 9%. A aprovação da presidente Dilma alcança 35%. 65% afirmaram que as manifestações durante a Copa dão mais vergonha do que orgulho. E 60% estão orgulhosos com a organização da Copa.
Portanto, as três teses apresentadas foram falseadas. Neste caso, isto evidencia que elas foram formuladas por políticos e estrategistas apaixonados. Portanto, os dados advindos das pesquisas de opinião não foram adequadamente interpretados e códigos sociais vindos de pesquisas qualitativas foram desconsiderados. Urge aos presidenciáveis refletirem sobre as suas estratégias futuras.