Os primeiros passos do governo Bolsonaro revelam riscos e oportunidades. Preocupações e esperanças existem. Quais os riscos e as oportunidades do futuro mandatário da República?
O presidente eleito é um homem só. Fala para ele mesmo. Deseja liderar, mas teme a concorrência do poder e não delega responsabilidades. O presidente mostra ausência de visão de país. Não fala dos problemas do Brasil. Insiste no discurso moral. E sugere que é através da moral que o Brasil sairá da crise econômica. Desigualdade e inclusão social não fazem parte do seu vocabulário.
Enfretamento à corrupção. O presidente Bolsonaro insiste neste discurso. Merece aplausos. Mas a corrupção no Brasil não é simples de ser combatida e não deve ser enfrentada de maneira célere. A celeridade no combate à corrupção produz crises política e econômica. Se a Lava Jato não fosse tão intensa, a reforma da Previdência poderia ter sido aprovada no governo Temer.
A nomeação de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça traz esperança para os utópicos e receio para os realistas. Os primeiros acreditam que é possível construir coalizão partidária, aprovar reformas e resgatar o bem estar-econômico atrelado ao efetivo combate à corrupção. Vejo incompatibilidade. Uma ação de cada vez. Ou melhor: essas duas agendas não podem ocupar o mesmo lugar no governo. A atuação do futuro ministro da Justiça poderá provocar crises políticas e impossibilitar a formação de coalizões partidárias eficientes para a aprovação de reformas.
Os filhos de Bolsonaro foram eleitos. Conquistaram mandatos em razão da fama do pai. Se não fosse o pai, talvez não estivessem no Parlamento. Por serem filhos do presidente, suspeito que acreditam que devem liderar o governo Bolsonaro. E ao fazerem isto, desconfio que eles entendam que têm que interferir nas ações do governo. Temo pela relação dos filhos de Bolsonaro com as lideranças partidárias, com os presidentes do Senado e da Câmara, com os ministros, e, claro, com o presidente da República.
Medo da impopularidade. Aos poucos, Bolsonaro conquistou popularidade e aplausos. Conquistou a presidência da República. É possível que o presidente eleito não esteja preparado para as vaias e, claro, a impopularidade. Bolsonaro foi eleito, mas o seu sucesso eleitoral evidenciou que existe um forte eleitorado oposicionista. A ausência de declarações incisivas quanto à reforma da Previdência indica que o presidente eleito teme a impopularidade. E por isto, poderá vir a ser um administrador de crises. E não um presidente reformista.
A falta de habilidade política. O discurso do presidente Bolsonaro e sua equipe é centrado na defesa do fim do toma-lá-da-cá. Na montagem dos ministérios, o presidente dispensou os partidos. Recentemente, procurou as agremiações partidárias e, no mesmo instante, a crise no PSL explodiu. Estes fatos mostram que o futuro presidente tem déficit de disposição para fazer política. No caso, para conversar, atender pedidos e convencer a classe política.
A esperança que resta, e dai surge a oportunidade, está em Paulo Guedes e os militares. O ministro da Fazenda pode convencer Bolsonaro a fazer política e, por consequência, aprovar projetos que possibilitem a recuperação econômica. Pode convencer o presidente a abandonar a agenda moral e se dedicar a agenda econômica. Os militares têm o poder de alertar o presidente Bolsonaro dos desafios do país. Da necessidade de dialogar com o Congresso. E de revelar ao futuro mandatário da República de que não estão dispostos a perderem a credibilidade que possuem na opinião pública.