Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE.
Pesquisas qualitativas com o objetivo de decifrar os estados emocionais dos votantes têm poder de predição. Em particular, quando decifram o seguinte aspecto: eleição nacionalizada versus eleição estadualizada. Em 1994, FHC (PSDB), presidente eleito, obteve 53,8% dos votos válidos em Pernambuco no 1° turno. Miguel Arraes (PSB), governador eleito, 54,1%. Não houve nacionalização nesta eleição, pois Arraes não era aliado de FHC. Na disputa de 1998, FHC é reeleito, e conquista em Pernambuco, 57,2% votos válidos. Jarbas Vasconcelos (PMDB) é eleito governador e obtém 64,13% dos votos válidos. Nesta eleição, a nacionalização aconteceu.
No ano de 2002, o candidato Lula (PT) conquista em Pernambuco 46,4% dos votos válidos no 1° turno. E Jarbas Vasconcelos é reeleito governador no 1° turno com 60,4%. A nacionalização não ocorreu nesta eleição. No ano de 2006, Lula obtém no 1° turno em Pernambuco, 70,9% dos votos válidos. E no 2° turno, 78,4%. Eduardo Campos (PSB), aliado de Lula no 2° turno, é eleito com 57% dos votos válidos. Em 2006, a nacionalização ocorre.
Na eleição de 2010, Dilma Rousseff (PT) obtém no 1° turno, 61,7% dos votos válidos em Pernambuco. E Eduardo Campos é reeleito com 82,8%. Mais uma vez, constato a nacionalização. Na disputa eleitoral de 2014, o então governador Eduardo Campos opta por ser candidato a presidente da República. Contudo, Campos morre em trágico acidente. Paulo Câmara (PSB) é eleito no 1° turno com 68% dos votos válidos. Neste turno, Marina Silva (PSB), candidata a presidente da República, conquista em Pernambuco 48% dos votos válidos. E Dilma Rousseff, 44,2%. Na eleição de 2014, o lulismo e o eduadismo influenciaram a escolha do votante.
Na última eleição presidencial, Paulo Câmara é reeleito governador com 50,7% dos votos válidos. Fernando Haddad (PT) obtém 48,8% no 1° turno. Ambos eram aliados. A nacionalização também ocorreu neste pleito. O candidato Jair Bolsonaro, em 2018, conquistou 30,5% dos votos válidos em Pernambuco no 1° turno.
Como bem mostro neste artigo, desprezar a nacionalização da disputa eleitoral de Pernambuco é agir com profundo otimismo ou inocência política. Ela será, obviamente, uma estratégia a ser utilizada pelo candidato do PSB. Caso Jair Bolsonaro (PL) aumente a sua popularidade no Estado, a nacionalização será válida para algum candidato da oposição. Estadualizar é outra estratégia. Contudo, como é possível estadualizar a disputa?