Qual será o futuro do deputado bolsonarista?
Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisas e Estratégias.
O bolsonarismo inaugurou nova fórmula de fazer política no Brasil. Em vez do diálogo, o conflito. No lugar do convívio harmonioso, a discórdia intensa. Em vez da proposição, o excesso de críticas. O mundo para o bolsonarismo era dividido entre comunistas e não comunistas, esquerda versus direita, lulistas corruptos versus bolsonaristas do bem, petistas versus bolsonaristas. A arena parlamentar representava o ringue. Muitos deputados foram eleitos com o estilo Jair Bolsonaro.
Diante da iminência da inelegibilidade de Jair Bolsonaro e da efetiva ação das instituições contra o bolsonarismo radical, qual será o futuro dos parlamentares bolsonaristas? Eles precisarão mudar o estilo de fazer política. Os vídeos agressivos terão que sair de cena. O enfrentamento ao petismo e ao lulismo requererá discurso sofisticado. A agenda moral terá que ser substituída pelos debates econômico e sobre assuntos do cotidiano. As críticas excessivas perderão lugar para as propositivas.
Independente da decisão final do TSE, a desbolsonarização da política aconteceria. Ela poderia ser forte, razoável ou fraca. Hoje estou entre a desbolsonarização forte ou razoável. Jair Bolsonaro está sem mandato e não tem o poder da atração política. O governo Lula com avaliação de razoável para bom condiciona o enfraquecimento forte ou razoável do bolsonarismo. A inelegibilidade de Bolsonaro o impedirá de disputar a eleição durante 8 anos, a não ser que a tragédia econômica aterrisse no Brasil e influencie futura decisão do STF sobre a decisão do TSE. Sem disputar eleição, outros atores da oposição surgirão.
Os novos oposicionistas não irão arriscar a reputação e o mandato. Respeitarão as instituições, construirão alianças, confiarão nas urnas eletrônicas e a democracia será o bem maior. A desbolsonarização da política possibilitará a existência de um ou mais representantes da direita civilizada na eleição presidencial de 2026. O discurso ideológico precisará dar lugar ao discurso econômico. Não se enfrenta o lulismo sem falar de economia e com excesso de liberalismo. Muitas das ideias do Paulo Guedes não poderão fazer parte do discurso dos presidenciáveis da direita. Os deputados campeões de votos em 2022, caso não mudem de estilo, tendem a não voltar para o parlamento em 2026. Ainda resta tempo para os deputados mudarem os seus discursos e estratégias. O PL, partido de Bolsonaro, terá que encontrar novas lideranças e campeões de votos desbolsonarizados.