Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégia.
Após o dia 07 de outubro, analistas falarão sobre os efeitos das eleições municipais sobre a vindoura eleição presidencial. Irão dizer que o bolsonarismo mostrou força ou está fraco. Irão condenar a reeleição do Lula, já que o PT não conquistará expressivo número de prefeituras. E mais: afirmarão que a esquerda e a direita saíram menor ou fortes do pleito eleitoral.
Na eleição de 2004, o PT conquistou 411 prefeituras. Em 2008, 549. Na disputa de 2012, foram 630. Após o impeachment da presidente Dilma, em 2016, 254. E durante o governo Bolsonaro, 179. Foi no governo Lula, 2008, e no auge do lulismo, 2012, que o PT conquistou o maior número de prefeituras. A partir de 2014, o enfraquecimento do lulismo começa, e em 2018, Jair Bolsonaro é eleitor presidente da República.
No auge do lulismo, 2008 e 2012, os partidos que mais conquistaram prefeituras foram: MDB, PSDB e PP. No ano de 2008, o MDB conquistou 1.194 prefeituras. E o PT: 549. O PSDB, forte opositor do PT à época, elegeu 787 prefeitos. Mais prefeituras do que o PT. Na disputa de 2012, o MDB conquistou 1.015 prefeituras; e o PT, 630. Mais uma vez, o PSDB elege mais prefeitos do que o partido do lulismo, 686. De 2004 a 2020, é o MDB que elege mais prefeitos no Brasil.
Na disputa eleitoral de 2020, o PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro, elegeu 90 prefeitos. Na eleição anterior, 2016, foram 30. Foi o bolsonarismo que fez aumentar o número de prefeitos eleitos de 2016 para 2020. Todavia, certamente, mais candidatos do PSL disputaram a eleição no último pleito municipal. Portanto, mais oferta de candidatos. O PP, partido do centrão, sempre elegeu grande número de prefeitos: 2004, 551; 2008, 549; 2012, 474; 2016, 495; e 2020, 682. A partir de 2012, o PSD, partido do centro, revela força na conquista de prefeituras: 2012, 495; 2016, 537; 2020, 650.
O PT, independente do lulismo, nunca teve excelente desempenho na eleição municipal. E existem várias razões para tal: 1) Existe excesso de partidos no Brasil; 2) O PT sempre privilegiou, inclusive, através da formação de alianças, as eleições presidenciais; 3) O PT não é um partido que atrai quadros competitivos para disputar a eleição municipal; 4) A grande quantidade de partidos faz com que fortes candidatos tenham uma imensidão de legendas para disputar a eleição. Dessa forma, o PT perde candidatos competitivos.
De acordo com o site Poder360°, legendas da esquerda não terão candidatos nesta eleição em 51% das cidades brasileiras. Esse dado sugerirá para alguns que o Brasil é de direita. Engano! O Brasil, quando olho especificamente para a eleição municipal, é de centro. No ano de 2023, o PSD, partido de centro, tinha o maior número de prefeitos: 968. Seguidos do MDB, 838; PP, 712; União Brasil, 564; PL, 371; PSDB, 345. E o PT? 247 prefeituras. Esses dados confirmam a minha assertiva: O eleitorado brasileiro não é de esquerda e nem de direita, mais de centro. Os dados também sugerem que o Brasil não é polarizado entre lulismo versus bolsonarismo. E a explicação é bem simples: temos excesso de partidos.
O PL, partido de Jair Bolsonaro, conquistará quantas prefeituras nesta eleição? Desenvolvo o seguinte raciocínio: Em 2016, o referido partido conquistou 30 prefeituras. Em 2020, foram 90. Portanto, triplicou. Em 2020, o PL, sem Bolsonaro filiado, elegeu 345 prefeitos. Caso triplique, assim como aconteceu com o antigo partido do ex-presidente, a atual agremiação de Bolsonaro conquistará cerca de 1.035 prefeituras. E o PT? Tende a aumentar o número de prefeitos. Podendo alcançar a marca de 2004, 411 prefeitos eleitos. Lembrando que em 2020, com Jair Bolsonaro no poder, foram 179.
Quais serão os recados da eleição municipal? 1) Os partidos do Centro elegerão o maior número de prefeitos e estarão em condições propícias para fazerem exigências quando da formação de alianças com Lula e outro candidato que venha a representar o bolsonarismo; 2) A eleição em São Paulo tem forte simbolismo para o presidente Lula e para o ex-presidente Bolsonaro. O sucesso eleitoral de Boulos sugerirá que o lulismo está muito forte para 2026. E a eleição de Ricardo Nunes ou do improvável Pablo Marçal (cisne negro), sugerirá que a direita chegará forte na vindoura disputa presencial.