Por Adriano Oliveira. Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisa qualitativa e Estratégia.
Aparenta ser tarefa árdua realizar previsões eleitorais. Todavia, ela precisa ser feita para que análises e decisões não fiquem presas, exclusivamente, ao presente e ao passado. Previsões eleitorais dependem fortemente da conjuntura. Se deciframos o presente e identificamos as variáveis que podem estar em atuação no futuro, a predição eleitoral ganha robustez. Isto é: ela passa a ser uma hipótese crível.
Realizar análise de risco eleitoral faz parte da previsão. Os riscos devem ser resumidos em variáveis que atuarão ou não na conjuntura. Ao fazer a análise de risco, o estrategista não deve desprezar o imponderável, o cisne negro. Observo quatro riscos para um novo sucesso eleitoral do presidente Lula em 2026:
Estado da economia: Este é óbvio. Ao contrário do bolsonarismo, que é fenômeno moral, o lulismo é fenômeno econômico. Foi a memória econômica de parcela eleitorado para com as eras Lula que contribuíram para o retorno do ex-presidente. Portanto, a aprovação do governo Lula depende, fortemente, do desempenho da economia;
Escolha dos evangélicos: Antes de 2018, os evangélicos não eram considerados eleitores estratégicos, isto é: eles têm o poder de contribuir fortemente para o desempenho do candidato. Até o instante, a maioria deles revela ser refratários ao lulismo em razão de valores morais. Isto não significa, que os evangélicos não tenham aspirações econômicas. Eles têm. Todavia, tenho como hipótese que o governo Lula não terá sucesso em conquistar os evangélicos pela agenda moral. As pautas deles são diferentes das da esquerda. Portanto, resta ao presidente Lula tentar conquistar os evangélicos através do bem-estar econômico e respeitar os seus valores.
Agenda moral versus agenda econômica: A eleição presidencial de 2018 já trouxe indícios de que a economia não é tudo. Assim como em outros países, o voto moral, o qual também pode ser classificado como voto identitário, está fortemente presente no Brasil, e, por consequência, enfraquece a força da economia como incentivo para a escolha do eleitor. O bolsonarismo leva vantagem sobre o lulismo caso a disputa eleitoral seja orientada pela pauta moral.
Retorno de Bolsonaro: Em razão de um crescimento econômico pífio ou de um grande escândalo de corrupção, mais, claro, perante a uma nova composição do Tribunal Superior Eleitoral, Jair Bolsonaro pode obter o direito de ser candidato na eleição presidencial de 2026.