Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
As pesquisas de opinião quantitativas estão mostrando, desde 2018, que são milhões de evangélicos refratários a Lula. Isto não significa que os evangélicos são bolsonaristas. Os evangélicos encontraram em Jair Bolsonaro um instrumento para apresentar as suas demandas e conquistar os seus objetivos. Nada mais do que legitimo.
As causas que motivam os evangélicos a não serem simpáticos ao lulismo precisam ser identificadas. E não são as pesquisas quantitativas que revelarão. São necessários dados qualitativos advindos de entrevistas em profundidade que poderão identificar as razões que fazem com que a aprovação do governo Lula entre os evangélicos seja menor do que entre os católicos.
O voto evangélico é identitário. Portanto, os valores evangélicos orientam a escolha eleitoral. O presidente Lula precisará conquistar parcela dos evangélicos para poder chegar em 2026 em condições favoráveis de ser reeleito. A oferta de benefícios econômicos é um caminho, o qual advirá do bom desempenho econômico da economia e de políticas públicas focalizadas para as classes D e E. Porém, é possível que as conquistas econômicas não sejam suficientes para mudar a visão dos evangélicos sobre Lula.
Com o objetivo de tentar decifrar a baixa popularidade de Lula entre os evangélicos, entrevistei um presbitério da igreja Assembleia de Deus. Frisei a ele que a sua identificação seria omitida. Fiz isto com o objetivo de tornar a conversa a mais franca possível. Assim como bem recomenda a técnica entrevista em profundidade. O que o presbítero me revelou?
O presbítero menciona muito pouco Lula na entrevista. Ele fala sempre na esquerda. A liderança evangélica começa a sua fala fazendo uma retrospectiva histórica, onde menciona Marx, bolcheviques e socialismo. Ele justifica o seu não gostar da esquerda com dados históricos. Ou seja: o evangélico revela as causas históricas do não gostar. No decorrer da entrevista, o presbítero menciona a ideologia de esquerda e diz que: “Ela exclui Deus da sociedade. Não aceitamos a exclusão de Deus da sociedade. Isto é cláusula pétrea para os evangélicos”.
Frisa que os evangélicos têm preocupações com a economia, assim como a esquerda. Neste ponto, o presbítero revela que evangélicos e esquerda têm semelhanças. Todavia, existe uma forte contradição entre ambos, qual seja: A esquerda exclui Deus da sociedade e os evangélicos não admitem. O presbítero frisa: “A esquerda não defende a família, defende o aborto, entre outros pontos. Temos medo de que o socialismo iniba a nossa liberdade de culto. Imagina se o socialismo chegue ao Brasil? Olhamos o presente e o futuro”.
A autoridade religiosa discorre com ênfase: “Não votamos na esquerda e nem em Lula porque a esquerda exclui Deus da sociedade. Não queremos pagar para ver. Então reagirmos. E votamos contra o PT e Lula. Eles excluem a Bíblia. Defendem a ideologia de gênero. Não defendem a família tradicional. Querem impor coisas às crianças nas escolas. O Estado quer se meter no casamento. Eu sei que você vai dizer que a Constituição garante a liberdade de culto. Mas temos medo do comunismo. Os regimes de esquerda podem destruir a igreja e o pensamento da família. Não queremos esperar. Eles tiraram Deus da sociedade. Por isto, nos mobilizamos”.
Portanto, algumas conclusões iniciais: 1) Os evangélicos não votam em Lula e no PT porque ambos são identificados como de esquerda; 2) A esquerda exclui Deus da sociedade; 3) Temas como aborto e ideologia de gênero são defendidos pela esquerda. E os evangélicos não concordam com estas pautas. São defensores da família tradicional; 4) Os evangélicos receiam que o Brasil venha a ser socialista e a liberdade de culto religioso deixe de existir; 5) As pautas econômicas são importantes para os evangélicos. Contudo, as pautas morais inibem o voto deles em candidatos de esquerda.