Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE.
Governadores e prefeitos são instigados diariamente a fazerem escolhas. Pesquisas de opinião e análise de cenários são instrumentos que auxiliam a decisão dos gestores. A intuição de cada um é relevante também. Os dados advindos das pesquisas auxiliam a construção dos cenários. Nestes, por sua vez, devem estar as consequências da tomada de decisão.
A pandemia representou evento disruptivo para a economia e a sociedade e exigiu que prefeitos e governadores fizessem escolhas perante um evento inesperado e onde as suas consequências não eram de modo algum previsíveis. Foi o dia a dia que revelou as consequências devastadores da Covid-19 para o mundo social. O livro “Portas fechadas: como a Covid abalou a economia mundial”, de Adam Tooze, é excelente obra para aqueles que ainda não avaliaram com sensatez e sabedoria as consequências da pandemia.
Não existe razão para ter Carnaval de rua em 2022. Ser otimista não basta para a tragédia ser evitada. Evidências e ciência, ao contrário, são suficientes. A pandemia ocasionou milhares de mortes no Brasil. A economia está em processo de grave crise. Inflação, aparentemente, descontrolada. Desemprego em alta. Sistema de transporte público funcionando de maneira extremamente deficiente em razão da diminuição da demanda. Estudantes, não importa se de escolas públicas ou privadas, sofreram com o ensino remoto. A saúde mental de muitos brasileiros está em estado de fragilidade e medo quanto ao futuro.
As evidências observadas na Europa mostram que a pandemia ainda não está controlada. Que a vacina, por ora, não permite a conclusão de que ela seja suficiente para evitar novas pandemias diante de grandes aglomerações e circulação de pessoas. Os benefícios econômicos trazidos pelo Carnaval de rua não serão suficientes para amenizar os efeitos de nova pandemia. Portanto, por que Carnaval?
Aprender com o passado faz parte da estratégia humana para a tomada de decisão. Se olharmos para trás descobriremos que o ano de 2020 foi desafiador para prefeitos e governadores. As perguntas frequentes eram: Fecha ou abre o comércio? Lockdown ou não? Os estudantes devem voltar para a sala de aula? Quais os setores da economia devem voltar? Uma única dose ou duas doses da vacina? As vacinas são confiáveis? Uso de mascaras ou não? Aglomeração ou distanciamento social? Estas eram as perguntas em 2020, as quais não servem para hoje, pois já temos as respostas quase que satisfatórias. Portanto, por que Carnaval? A realização do Carnaval mais nova pandemia terá o poder de reduzir a popularidade dos gestores públicos que autorizarem os festejos momescos.