Polarização, calcificação e bolsonarismo
Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
No meu último livro “Do bolsonarismo ao retorno do lulismo: Bolsonaro voltará ao poder?” apresentei a seguinte hipótese: o crescimento econômico acompanhado do sentimento de bem-estar enfraquecerá o bolsonarismo.
O excelente livro de Felipe Nunes e Thomas Traumann revela com bastante dados a intensidade da polarização e sugere a sua calcificação na sociedade. Sendo assim, o bolsonarismo adquire possibilidade de longa vida, assim como a polarização. O cientista político Marcus André (UFPE) faz inédito e sábio questionamento em artigo no jornal Folha de São Paulo (28/01/2024): “A vasta maioria dos partidos que apoiavam Bolsonaro, agora apoiam Lula. Quem está calcificado? O eleitorado, militantes, parlamentares?”
“Líderes evangélicos vão abandonar Bolsonaro?” Este foi o título da brilhante coluna do antropólogo Juliano Spyer no jornal Folha de São Paulo (05/02/2024). Spyer me encorajou mais naquilo que tanto me provoca: são os evangélicos os principais sustentáculos do bolsonarismo? Pois bem! Todos os intérpretes citados, e aí me incluo, me fazem refletir sobre o futuro do bolsonarismo.
Lembro que o bolsonarismo, ao contrário do lulismo, é fenômeno moral. O lulismo é fenômeno econômico. Não nego a polarização, mas a indagação de Marcus André e a hipótese levantada em minha última obra, me levam a questionar o futuro da calcificação do bolsonarismo na sociedade. Se os partidos de direita ou centro-direita, os quais integram o Centrão, apoiam Lula, apesar das turbulências, como falar em calcificação perene ou consolidada? Trago outra hipótese: a calcificação é momentânea. Então, reforço a minha tese: o aumento do sentimento de bem-estar econômico do brasileiro possibilitará o enfraquecimento do bolsonarismo, da polarização e da calcificação.
Contudo, um outro problema surge na complexa sociedade brasileira: Se os evangélicos são os sustentáculos principais do bolsonarismo, a migração deles para o lulismo em razão da melhora do sentimento de bem-estar econômico, enfraquecerá o bolsonarismo, a polarização e a calcificação? O artigo de Spyer me provoca: Parcela do eleitorado evangélico está disposta a escolher Lula? Respondo com uma hipótese: A agenda moral da esquerda e do PT não possibilita a conquista de parte majoritária dos evangélicos. Se assim for, a calcificação e a polarização seguirão fortalecidas.