Pix, Lula e as redes sociais
A crise do PIX fortaleceu o debate sobre o desempenho das redes sociais do presidente da República. A imprensa divulga e divulgou intensamente que o governo Lula não sabe usar as redes sociais e que a “direita”, ou melhor, o bolsonarismo, dá um banho de estratégia na utilização das redes sociais quando comparado com o desempenho estratégico do atual mandatário da República.
Redes sociais são instrumentos para a execução da estratégia. Elas não são a estratégia. Essa, por sua vez, nasce da pesquisa qualitativa, a qual tem o objetivo de decifrar as percepções, desejos e sentimentos dos eleitores. A conjuntura importa para a definição da estratégia. O que falta a comunicação do governo Lula é estratégia e a sua ausência é derivada da frágil interpretação sociológica da realidade.
O governo Lula não é velho. Mas o governo Lula vive do passado. O atual presidente da República precisou restaurar os programas sociais, os quais fizeram com que a sua popularidade crescesse fantasticamente no período de 2002 a 2010. Todavia, naquela época, as ações do governo Lula eram novidades e inovadoras. Hoje não é mais! Parcela dos eleitores não quer apenas “bolsas”. Desejam mais. Portanto, o governo Lula vive do passado quando acredita que a comunicação das “bolsas” instituídas é suficiente para lhe dar popularidade.
Foram os méritos das eras passadas de FHC e de Lula que transformaram os hábitos e desejos do eleitor, além da demografia. Foi na era FHC que a inflação foi debelada: Uma cultura de estabilidade, ou seja, da não variação gritante de preços, foi instituída na mentalidade dos brasileiros. Lula inseriu os motes do consumo e da inclusão social. Ambos foram fortes incentivos para que Lula findasse as suas eras em 2010 com fantástica popularidade.
Os méritos dos governos FHC e Lula trouxeram mudanças nos desejos e percepções dos eleitores. Os votantes não querem inflação. Seguem desejando bem-estar econômico, mais consumo e mais renda. Porém, eles querem mais. Se no passado, as classes B e C eram minoritárias e formadas por trabalhadores, hoje, ou melhor, há um bom tempo, elas são grandes e empreendedoras. Não basta falar para os trabalhadores. É necessário se comunicar com os empreendedores, batalhadores. Esses querem mais conquistas e não desejam viver apenas das políticas sociais do Estado.
São milhares de empreendedores que são evangélicos e que repudiam a agenda identitária do petismo. Eles condenam a esquerda por supostamente defender o comunismo. Eles repudiam o aborto e não se sentem à vontade para discutir abertamente determinadas pautas morais. Os empreendedores, os quais não são, necessariamente, evangélicos, têm a percepção de que o Estado arrecada muito, mas não oferta serviços públicos de qualidade. E mais: O Estado arrecada, gasta muito, não leva serviços de qualidade e ainda quer arrecadar muito.
A Lava Jato, entre 2014 a 2018, criou e reforçou entre os eleitores, que a classe política é corrupta. Em especial, os petistas e lulistas. A percepção para muitos é de que os políticos estão no poder “roubando” e querendo arrecadar mais através de mais impostos. O bolsonarismo, produto, em parte, da Lava Jato, tem a sabedoria de reforçar a percepção de corrupção na esquerda e de que ela não serve para nada, a não ser, roubar e arrecadar.
Os ricos, os quais são poucos no Brasil, agitam o mercado. Descredibilizam a política econômica do governo Lula. E fazem isto porque querem, corretamente, um plano a longo prazo para o controle do gasto público. Com o mercado agitado e insatisfeito, o real é desvalorizado, a dívida pública aumenta, a inflação cresce e os juros têm alta. Por consequência, governo dá explicações diárias, algumas equivocadas, sobre a contenção do gasto público.
Bolsonarismo, evangélicos, novos desejos dos eleitores, percepção do bem-estar econômico e fake news limitam a popularidade do governo Lula. Essas causas se retroalimentem, e algumas são causas de outras. O governo Lula precisa identificar adequadamente os desejos e sentimentos dos eleitores. Além de interpretar satisfatoriamente a conjuntura. Friso: A popularidade do atual governo não crescerá fortemente e o que hoje garante o favoritismo de Lula em 2026 é a ausência de uma direita civilizada, ou seja, não bolsonarista.
Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia