Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégias.
Recentemente, o presidente Lula concedeu duas entrevistas a dois veículos de grande audiência: CBN Brasil e Portal Uol. Em ambas, o presidente Lula atacou o “mercado”, defendeu os pobres, atacou o Banco Central e criticou a alta dos juros. No fim do dia, após as declarações do mandatário da República, o dólar teve variação positiva e diversos analistas econômicos afirmaram que o mercado “está nervoso em razão do Lula”.
Se o dólar aumenta, possibilidade de maior inflação. Se o presidente Lula, ao defender os pobres, não se compromete com o corte de gastos, o “mercado” reclama e a incerteza com o desempenho da economia do país ganha dimensão. Quando o chefe do Executivo critica o Banco Central, ele sugere, segundo alguns, falta de compromisso com o controle da inflação.
As declarações do presidente Lula causam turbulências. Diante disto, indago: Por que Lula fala o que causa turbulência? A lógica do presidente Lula é eleitoral. Ele fala para a sua base eleitoral, a qual lhe concedeu vitórias em 5 cinco eleições presidenciais. São os pobres que elegem o Lula. Se não fosse eles, o presidente da República já estaria aposentado. Portanto, existe racionalidade e sinceridade nos pronunciamentos do Lula.
O atual chefe do Executivo não é comprometido com o suicídio eleitoral. Faço esta afirmação considerando as duas eras Lula, as quais foram exitosas. O presidente sabe que em algum momento é necessário recuar e envia recados ao mercado. Ela faz isto através do ministro Fernando Haddad. Vejam que o ministro da Fazenda em quase a totalidade das suas declarações faz acenos ao mercado.
“Haddad confirma meta de inflação contínua de 3%” – G1. “Haddad diz que contas públicas terá melhor resultado em 10 anos” – Agência Brasil. “Haddad diz que fiscal será o melhor em 10 anos” – UOL Economia. Estas manchetes revelam a estratégia do Lula, qual seja: Ele fala para o seu eleitorado e Fernando Haddad para o mercado. Portanto, o presidente da República não tem a menor intenção de desestabilizar a economia brasileira, até porque ele sabe que se isto acontecer, o bolsonarismo ganha força.
O mercado fica inquieto em virtude da sua natural dinâmica que tem lógica, é proposital. Ele reage naturalmente ao discurso contrário à responsabilidade fiscal, produz lucros ou prejuízos, e, em seguida, volta a um ponto de normalidade. Os movimentos do mercado são previsíveis. Mas isto não significa que ele acredita cegamente na derrocada da economia brasileira ou que o presidente Lula cometerá suicídio eleitoral.