SÃO PAULO – Os brasileiros já sentem no seu dia a dia as "dores" do crescimento do País. Atividades cotidianas – pegar um táxi, comer num restaurante, conseguir um quarto de hotel, viajar de avião – tornaram-se verdadeiros desafios, principalmente nos grandes centros. A sensação das pessoas é que o Brasil está "caro" e "lotado".
A situação é um reflexo do avanço da economia e do mais baixo nível de desemprego dos últimos 20 anos. Desde 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) do País cresce, em média, 4% ao ano. A demanda por serviços superou a oferta e a consequência foi a superlotação e a alta dos preços. "O ritmo atual de crescimento é insustentável", diz Fábio Ramos, economista da Quest Investimentos.
Nos últimos 12 meses, comer fora de casa ficou 12,7% mais caro, estacionar o carro subiu 10,9%, a mensalidade da escola das crianças aumentou 9,1%, o aluguel subiu 9,9% e a consulta do médico pesa 10,4% mais no orçamento, revela cálculo da Quest. Boa parte dos reajustes é o dobro da inflação do período medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que já subiu salgados 6,5%.
As pessoas que viajam com frequência percebem com mais intensidade os problemas. O "calvário" começa com as filas intermináveis nos aeroportos e os atrasos dos voos, mas está longe de terminar ao chegar ao destino. Dependendo do horário, conseguir um táxi e um quarto de hotel são proezas.
Na cidade de São Paulo, existem 35 mil táxis em circulação, a terceira maior frota municipal do mundo. No entanto, nenhuma nova licença foi concedida nos últimos seis anos, período de forte crescimento da demanda. Os preços da corrida estão entre os mais altos do Brasil e são o triplo de Buenos Aires.
O mercado está tão aquecido que permitiu um reajuste de 16% na tarifa de táxis da cidade em novembro, sem nenhum impacto na demanda. Os taxistas culpam o trânsito pela falta de veículos. "São Paulo tem muito táxi e não comporta mais. É o trânsito que segura os motoristas", diz Natalício Bezerra da Silva, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo.
Casa do primo. Vencida a etapa do transporte, é preciso conseguir acomodação no hotel. Os executivos reclamam que está difícil encontrar quartos em São Paulo, mesmo quando não há eventos de grande porte na cidade. Cláudio Fontes, diretor-geral da Ajebras, empresa de refrigerantes de origem peruana com filial no Rio de Janeiro, já teve de dormir na casa de um primo.
Fontes viaja a São Paulo em esquema de "bate e volta", mas às vezes é obrigado a ficar na cidade, o que traz problemas. Seis meses atrás, pediu hospedagem ao primo. Recentemente, foi dormir em um hotel em Itupeva, a 80 quilômetros da capital. "O preço da diária era o mesmo dos Jardins (bairro nobre da capital). Gastei uma hora e meia para entrar em São Paulo no dia seguinte", conta.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), a taxa de ocupação em São Paulo está em pouco mais de 70%, um nível considerado "confortável" pelo setor. A avaliação da entidade é que os gargalos se concentram no Rio e em Recife, onde a ocupação superou 80%. "Nos últimos anos, 30 milhões de brasileiros entraram no mercado. Se dermos conta da demanda interna, estaremos prontos para a Copa e a Olimpíada", disse Enrico Fermi, presidente da Abih.