Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégia.
Não aconselho analisar a live de Pablo Marçal e Guilherme Boulos no dia 25/10 como um evento restrito à eleição municipal. Marçal foi além e deixou os míopes da política, inclusive o candidato do PSOL, acreditando que o ex-prefeiturável estava dando uma grande contribuição a Boulos. Marçal usou a live para se reposicionar no eleitorado. Desde ontem, ele não é mais o político de extrema direita, e, consequentemente, radical.
Desde a entrada de Marçal na disputa pela prefeitura de São Paulo, previ que a sua vida seria curta no processo eleitoral em razão da sua alta rejeição. Todavia, olhando para ele atentamente, e ontem confirmei isto, o neopolítico é bastante talentoso. Ele fala bem, é generalista quando fala sobre problemas da cidade, revela história de superação e faz questão de ressaltar que é bem-sucedido. E mais: Pablo Marçal é evangélico.
A breve passagem de Marçal na eleição deste ano, certamente, o fez repensar a sua estratégia: Ele não pode ser um Bolsonaro. Ele quer ser de direita, mas diferente de Bolsonaro. O ex-presidente é, para Marçal, considerando a live de ontem, de extrema direita. Marçal é, considerando a live de ontem, de direita, empreendedor, democrata e evangélico. E mais: No encontro com Boulos, Marçal deixou claro que não é radical, ele dialoga com todos.
Pablo Marçal é ator estratégico na política brasileira. Ele tem todas as condições de estar na disputa presidencial de 2026. Ele será, fiquem atentos as minhas lógicas e coerentes previsões, disputado por diversas agremiações partidárias. Será utilizado como moeda de troca nas negociações políticas. Por exemplo: Marçal pode ir para o União Brasil e ser candidato ao governo de São Paulo ou a presidente da República. Não é escolha ótima para Marçal disputar mandato de deputado federal ou de senador. A sua melhor escolha é disputar a presidência da República ou o governo do Estado de São Paulo. A não ser que ele não tenha ambição política.
Pablo Marçal é o pós-lulismo. Muitos imaginavam que após Lula, uma nova liderança no campo da centro-esquerda surgiria. Por ora, isto não acontece. Marçal fala para a ralé e os batalhadores. Esses são aqueles, como bem definem o magnífico sociólogo Jessé Souza, que saem de casa cedo à procura de oportunidades e desejosos de obterem ascensão social. Complemento a definição brilhante de Jessé: A ralé e os batalhadores são os empreendedores que estão enjoados do Estado, descrentes das políticas sociais e que acreditam que a ascensão econômica virá com muito trabalho, dedicação e esforço, assim como a trajetória de Pablo Marçal. Além do mais: Muitos batalhadores são evangélicos que tem muita fé em Deus, defendem a família e acreditam no esforço individual.
Por que Marçal é o pós-Lula? O lulismo é fenômeno econômico que têm a sua origem nas políticas sociais e na pujança econômica dos dois primeiros governos Lula. A operação Lava Jato e sucessivas crises econômicas enfraqueceram o lulismo. Mas ele ainda tem muita força e assim seguirá. Todavia, as políticas sociais e mais a ausência de crescimento econômico robusto limitam as oportunidades para milhões de brasileiros que sonham em ter rápida e forte ascensão social. Ou seja: São milhões de batalhadores que não mais acreditam na força do Estado como propulsor da mobilidade social. Eles acreditam no desempenho individual.
Portanto, Pablo Marçal é a inspiração para muitos brasileiros. Assim como foi e é o presidente Lula. Marçal poderá ser produto da ansiedade econômica, assim como é e foi o lulismo. Mas Marçal tem algo diferente de Luiz Inácio Lula da Silva: O coach é evangélico e faz questão de mencionar isto com bastante ênfase. Portanto, o maçalismo poderá surgir como fenômenos econômico e moral.
O presidente Lula tem qualidades exclusivas, quais sejam: 1) Grande capacidade de diálogo; 2) Profundo reconhecimento da realidade social do Brasil; 3) Plasticidade política, ou seja, conversa com banqueiros e representantes do movimento sem-teto sem cerimônias;4) Sensibilidade social; 5) Pleno domínio do jogo político e institucional. Portanto, não estou dizendo que Marçal é Lula. Mas afirmando que Marçal pode ser o pós-lulismo.