Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE.
No último dia 06/01, a Folha de São Paulo, em matéria assinada pelo jornalista Igor Gielow, revelou que o Exército mudou o planejamento deste ano em razão da possibilidade de violência na eleição. Os generais não estão exagerando. Estão sendo sábios.
O presidente Jair Bolsonaro ao descredibilizar a urna eletrônica e ao atacar as instituições, especificamente, o STF, incentiva a militância bolsonarista a não aceitar o resultado da eleição presidencial vindoura. Portanto, é possível sim, conflitos.
O retorno do ex-presidente Lula, após a devastadora Lava Jato, é mais um incentivo à violência. As pesquisas qualitativas sempre trazem a seguinte frase emblemática: “PT nunca mais”. Ela deixa claro a forte rejeição ao PT em parcela do eleitorado. Por outro lado, as pesquisas também revelam que são variados os votantes que acreditam que o “sistema não deixa Bolsonaro governar”.
Estamos, portanto, diante de um contexto explosivo: um presidente da República que incentiva a desconfiança às instituições, eleitores que possuem ojeriza ao PT, e votantes que acreditam que o “sistema” inibe a execução de um bom governo por parte do atual mandatário da República.
Entretanto, a violência só ocorrerá na eleição, se Jair Bolsonaro for derrotado. Esse é um dado importante e que revela que o atual presidente da República tem responsabilidade com o que ocorrer pós eleição. Hoje, as pesquisas revelam que a derrota de Bolsonaro é possível. Portanto, o cenário com violência é verossímil. Não se deve desprezar, também, um atentado contra algum presidenciável.
A eleição de 2022 deverá ter o encontro de dois fenômenos de massa que geram paixões. O lulismo nasceu sem precisar do bolsonarismo. Porém, o bolsonarismo é alavancado pela rejeição ao PT e a Lula. Isto não significa que a ausência de ambos impediria o nascimento do bolsonarismo. Ressalto que o lulismo é maior do que o bolsonarismo e é fenômeno econômico e ideológico. O bolsonarismo é um fenômeno puramente ideológico.
Não descarto, ainda, o cenário em que Jair Bolsonaro desiste da reeleição. As pesquisas e o Centrão podem frear o desejo do presidente da República pela reeleição. Caso isto ocorra, o cenário de eleição com violência será enfraquecido.
A derrota eleitoral de Jair Bolsonaro traz riscos. O presidente da República poderá usá-los como estratégia de campanha ou instrumento para a manutenção do poder. Apesar da democracia brasileira resistir muito bem em razão do STF e da imprensa, não devemos ser exclusivamente otimistas quanto à vitalidade dela. Riscos existem.