Ocorrerá eleição em 2022?
Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE.
Trabalho com três cenários para a vindoura eleição presidencial: 1) Recuperação do presidente Bolsonaro e sua ida para o 2° turno contra o PT; 2) Vitória do ex-presidente Lula no 1° turno; 3) O candidato do Centro supera o presidente Bolsonaro e disputa o turno final contra o PT. Entretanto, recente reportagem do Estadão revela que o general Braga Neto, atual ministro da Defesa, enviou recado para o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP), com o seguinte conteúdo: as eleições de 2022 só podem ocorrer com o voto impresso.
O recado não convém por dois motivos: 1) Vários presidentes foram eleitos com o uso da urna eletrônica, inclusive o presidente Bolsonaro; 2) Na democracia, militares não podem enviar recados. Eles estão sob a chefia do presidente da República. Qual seria, então, as razões do general Braga Neto em enviar recado para o presidente da Câmara? Segundo a jornalista Thais Oyama, o ex-presidente Lula é execrado por 9 entre 10 generais. Portanto, conclusão lógica: os militares não desejam a vitória de Lula em 2022.
Se tal desejo é verdadeiro, os militares estão atentando contra a democracia. Pois, desconheço, qualquer manifestação militar em relação à credibilidade das urnas eletrônicas, inclusive, vale ressaltar, na eleição de 2018, na qual Jair Bolsonaro foi eleito. O “temor Lula” não se justifica, pois apesar do ex-presidente ser favorito, não existem certezas absolutas de que ele será candidato ou que ganhará a eleição.
Por que os militares não aceitam Lula? A resposta, talvez, seja esta: ele foi preso. Tal resposta não encontra respaldo na democracia. Pois, o ex-presidente adquiriu o direito de ser candidato novamente através da legalidade, e não por golpe militar. Portanto, rejeitar novo sucesso eleitoral de Lula é, claramente, atentado à democracia brasileira.
O general Villas-Boas já usou o Twitter para enviar recados às instituições. Recentemente, os comandantes militares mais o ministro da Defesa fizeram nota contra a CPI da Covid-19. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida, afirmou que as Forças Armadas têm base legal para agir. Estas são algumas evidências, dentre outras, que exigem respostas dos políticos.
Os políticos precisam saber que sem eleição, a dinâmica política é enfraquecida. O legitimo toma-lá-dá-cá deixa de ser instrumento para a conquista de eleitores. E, o fundamental: na ausência de democracia, os políticos perdem importância e poder de influência na sociedade e nas instituições. Todos os parlamentares brasileiros precisam deixar claro para as Forças Armadas que o Brasil precisa de eleição. E não de ameaça. E nem de recados.