Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
A sabedoria estratégica precisa ser a característica principal dos atores políticos. Tal sabedoria corresponde à capacidade do ator político de prognosticar cenários a partir da compreensão adequada do contexto. Inerentes aos contextos estão presentes mecanismos interacionais entre competidores e eleitores que revelam as suas respectivas intenções e desejos.
A explicação por mecanismos propostas pelo filósofo Jon Elster em variadas das suas obras e a ciência conteúdistica sugerida pelo sociólogo Luis de Gusmão em seu fantástico livro “O fetichismo do conceito” podem ser utilizadas para a compreensão das estratégias adotadas pela presidenta Dilma Rousseff em busca da recuperação da sua popularidade. Segundo Elster, relações causais são encontradas nos contextos sociais. Neste sentido, eleitores são incentivados pelos competidores a fazerem escolhas. Para Gusmão, o qual também é adepto da explicação por mecanismos, os eventos que estão presentes no contexto social podem vir a ofertar mecanismos caso o conteúdo da realidade seja intensamente analisado.
A tese recorrente entre acadêmicos, estrategistas e competidores é que o estado da economia importa para explicar o comportamento dos eleitores. Para eles, o mecanismo observado é: se a economia vai bem, eleitores tendem a votar na reeleição do presidente da República. Esta tese é concebida em virtude do sucesso eleitoral de FHC, Lula e Dilma. Mas, caso façamos uma análise parcimoniosa, constataremos que a economia importa, mas ela não oferta explicação satisfatória para a compreensão do comportamento do eleitor quando a consideramos de modo solitário.
O conjunto de variáveis explica o comportamento do eleitor. O voto econômico teve influência na eleição de FHC em 1994 – Mecanismo 1. Mas em 1998, outra variável estava presente, qual seja: o desejo de continuidade (Mecanismo 1) e o reconhecimento de que FHC tinha condições de manter o Brasil no rumo certo – Mecanismo 2. Em 2002, Lula foi eleito em razão do desgaste da economia (Mecanismo 1), mas ele precisou mudar. Neste caso, ele convenceu os eleitores a confiarem nele – Mecanismo 2. O ex-presidente Lula foi reeleito em virtude do bem-estar econômico da população – Mecanismo 1. Porém, a variável confiança no presidente Lula também explica o seu sucesso eleitoral – Mecanismo 2. Dilma foi eleita em virtude de representar a continuidade das conquistas econômicas (Mecanismo 1) e sociais (Mecanismo 2) dos eleitores na era Lula. E por conta o lulismo (Mecanismo 3).
Mesmo diante do pífio crescimento econômico de 2011 e repiques inflacionários, a presidenta Dilma ostentava, até junho de 2013, alta aprovação e liderava com folga a disputa presidencial. Após as manifestações, a sua popularidade despencou, mas recentes pesquisas mostram a sua recuperação. As estimativas de crescimento econômico para 2013 e 2014 não são promissoras quando comparamos com as taxas de crescimento alcançadas na era Lula. O Brasil deve crescer cerca de 2% em 2013 e 3,5% a 4% em 2014. Além da expectativa de alta inflacionária, a qual corrói a renda do consumidor.
Diante deste quadro, Dilma e os seus estrategistas mudaram, parcialmente, as estratégias da sua campanha. Em vez de mostrarem ao eleitor as conquistas econômicas da era Lula e do seu governo, eles optaram por criar o Programa Mais Médicos, o qual deverá ter forte impacto eleitoral. Este Programa tem condições de emocionar os eleitores.
O que será mostrado em 2014, caso não ocorra acidentes até lá, é que Dilma, diante da falta de médicos, tomou atitude com o objetivo de garantir atendimento médico à população brasileira. Sendo assim, a presidenta Dilma Rousseff usará o Programa Mais Médicos, caso ele seja bem sucedido, como “escudo” para os questionamentos da oposição no âmbito econômico.