Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
O termo Nova Política passou a fazer parte da retórica de uma parcela da classe política brasileira após as manifestações ocorridas em junho de 2013. Tal expressão também está presente nos discursos dos presidenciáveis. Mas o que significa Nova Política? Constato duas definições, em âmbitos diferentes, para a expressão Nova Política.
O referencial para a construção da definição da Nova Política são os discursos da presidenciável Marina Silva. No âmbito político, Nova Política representa a formação de alianças partidárias programáticas e não pragmáticas. As alianças devem desprezar o político “velho”, ou seja, aqueles que pautam a sua conduta pelo fisiologismo. E caso a vitória eleitoral ocorra, o incentivo motivacional para os parlamentares fazerem parte da coalizão governamental é o projeto de governo a ser implantado.
No âmbito eleitoral, esta Política significa que o candidato identificou os desejos da população provenientes das manifestações de junho de 2013. Em razão disto, os significados desta Nova Política, no âmbito político já apresentado, são incorporados ao discurso dos candidatos, além da defesa da qualificação e ampliação dos serviços públicos e do combate intransigente à corrupção.
A Nova Política tende a conquistar eleitores? A análise atenta das pesquisas de opinião realizadas pelo instituto Datafolha durante e após as manifestações em São Paulo revelam que elas ocorreram em virtude do aumento da tarifa do transporte público – Vetor causal. As manifestações de São Paulo irradiaram eventos semelhantes em várias cidades do Brasil.
Os temas trazidos pelos manifestantes foram variados, embora, o tema principal, o qual deu origem às manifestações, foi o aumento da tarifa de ônibus (Pesquisa nacional, IBOPE, 20/06/2013). As manifestações conquistaram o apoio de 75% da população brasileira. Mas apenas 6% declararam ter participado delas (Pesquisa nacional, IBOPE, 20/06/2013).
Em 2009, 35% dos eleitores brasileiros confiavam no Congresso Nacional. Em 2013, após as manifestações, o porcentual foi de 29%. Em 2013, após as manifestações, 25% dos eleitores confiavam nos partidos políticos. No ano de 2009, o porcentual era de 31%. 52% dos eleitores confiavam no Poder Judiciário em 2009. Após as manifestações, o porcentual de confiança foi reduzido para 46% (IBOPE, 15/06/2013). Congresso Nacional e agremiações partidárias nunca conquistaram a confiança, de acordo com a pesquisa do IBOPE, de mais de 36% dos eleitores no período de 2009 a 2013. A pesquisa citada mostra que as manifestações possibilitaram a redução da confiança dos eleitores para com diversas instituições brasileiras. Mas os dados da pesquisa também revelam oscilações na confiança dos eleitores para com as instituições no período de 2009 a 2013.
Os diversos dados apresentados sugerem as seguintes conclusões: 1) Caso não tivesse ocorrido o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, as manifestações em várias cidades do Brasil não ocorreriam; 2) Os temas reclamados pelos manifestantes – tarifas de transporte público reduzidas, combate a corrupção, mais investimentos em saúde e educação e qualificação do serviço público – não são novos, eles fazem parte da agenda das diversas eleições brasileiras; 3) Partidos políticos e Congresso Nacional há muito tempo possuem déficit de confiança da população. Portanto, a agenda eleitoral que a Nova Política sugere não é nova, mas tradicional, a qual procura atender a uma demanda histórica da maioria dos eleitores.
Joaquim Barbosa e Marina Silva são protagonistas que podem inserir em suas respectivas retóricas os atributos da Nova Política. Pois eles não foram chefes do Poder Executivo e pautam as suas respectivas condutas na crítica as práticas tradicionais da política brasileira e desempenho das instituições. A Nova Política não é estratégia suficiente para garantir o sucesso eleitoral dos presidenciáveis, pois ela já existe há um bom tempo, e mesmo assim, nenhuma surpresa aconteceu nas eleições presidenciais desde 1994. A surpresa virá?