Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor do Departamento de Ciência Política da UFPE.
Imagine que você é estrategista ou hábil político. O ex-presidente Lula lhe convida para o almoço e diz: “O PT não terá candidato a presidente da República. Mas queremos indicar o candidato a vice”. Você aceitaria? Outro cenário: alguém lhe informa, em absoluto sigilo, que o STF restaurará os direitos políticos do ex-presidente Lula e ele deve ser candidato à presidente em 2022. Você descartaria Lula das suas análises?
As duas perguntas acima têm o objetivo de trazer o realismo político para a política. Em meu último livro – Qual foi a influência da Lava Jato no comportamento do eleitor? – mostrei que o PT perde eleitores desde 2010 na disputa presidencial. Revelei que a admiração ao PT estava em forte declínio. E que reagiu na disputa presidencial de 2018.
Os resultados das eleições municipais revelam forte queda do PT. No ano 2000, o PT conquistou 189 prefeituras. Em 2012, 652. Antes, em 2010, o ex-presidente Lula elege Dilma Rousseff e deixa o governo com alta aprovação. Em 2016, após intensa ação da Lava Jato, o PT conquista 256 prefeituras. E neste ano, 183. Entretanto, desde 2002, o PT ganha eleição presidencial ou disputa o 2° turno. Ressalta-se que em 2018, mesmo diante do intenso bombardeio da Lava Jato, Fernando Haddad (PT) foi ao 2° turno.
No pleito municipal, o PT declina. Nas eleições presidenciais, o PT segue como ator estratégico. O desempenho do PT na eleição municipal não sugere qual será o seu desempenho na disputa presidencial. Esta é a evidência. Portanto, não posso considerar o desempenho do PT na eleição municipal e antecipar o seu desempenho na futura competição presidencial de 2022.
Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência realizadas este ano em várias cidades do Nordeste revelam que o PT é associado à corrupção e à bonança. O ex-presidente Lula também. Os eleitores que não gostam do PT, independente da classe social, mostram forte decepção com o partido e com Lula em razão da corrupção. Vários deles, contudo, reconhecem os benefícios da era Lula. Existem eleitores que, apesar da corrupção, afirmam que gostam de Lula, pois “quem nuca roubou?”.
O antipetismo existe. Porém, o lulismo também. Ambos são concorrentes. Como ambos estarão em 2022 em um cenário com Bolsonaro candidato e, possivelmente, pífio desempenho da economia? Proponho cautela na previsão quanto ao PT. Ainda é cedo.