O PSDB precisa revalorizar sua trajetória, fixar seus valores diante da sociedade e apresentar propostas que abram espaço para esta mobilidade social que está sendo registrada nos últimos anos, que o eleitorado já identifica com as primeiras iniciativas do partido, com o Plano Real.
Essa é a conclusão principal de uma pesquisa que o cientista social Antonio Lavareda apresentou ontem aos senadores do partido em Brasília para basear uma reorganização partidária.
Há um longo caminho a percorrer, mas alguns sinais positivos estão à frente. Embora venha em segundo lugar, na frente do PMDB, na preferência do eleitor, tem uma distância muito grande do PT, que é o preferido.
A corrupção chegou mais perto do PT, mas a percepção do eleitor é que ambos os partidos estão ligados a problemas de corrupção.
Embora a igualdade de posições possa indicar que a questão moral fica neutralizada como arma política, uma visão otimista, do ponto de vista eleitoral, seria a de que o PT perdeu a fama de ser um partido puro e está fragilizado nessa área.
O aparelhamento político da máquina como gerador da incompetência da gestão pública está ficando claro para o eleitor, enquanto o diferencial favorável aos tucanos seria a qualificação dos seus quadros e as gestões estaduais.
Em relação à presidente Dilma, metade dos entrevistados acha que ela realmente está querendo fazer uma grande limpeza, mas outra metade desconfia que ela seja seletiva nessa limpeza, por interesse partidário.
Houve resgate parcial da imagem de Fernando Henrique, e o PSDB tem possibilidade de resgatar seu passado, mas perdeu bandeiras históricas para o PT.
Até a Lei de Responsabilidade Fiscal: há quem pense que foi feita pelo PT, que na verdade votou contra ela.
A memória do Plano Real voltou fortemente na opinião pública devido ao aniversário de sua implementação e também às homenagens prestadas pelos 80 anos do ex-presidente FH.
A associação do partido com o processo que pôs fim à inflação, estabilizou a economia e preparou o país para o crescimento é muito clara.
Um ponto importante do levantamento, ressalta Lavareda, é a coincidência da percepção do PSDB como oposição com o que a maioria do povo considera sobre como deve agir um partido de oposição: oposição moderada, criticando o que está errado e colaborando com o que acha certo.
Essa posição moderada, fiscalizadora, sem radicalismos está bem sintonizada com a expectativa da opinião pública.
O PSDB está, porém, muito aquém do PT nas atividades da internet, longe das novas redes sociais. A grande largada do resgate do legado do partido será um seminário no Rio em outubro, organizado pelo instituto coordenado pelo ex-senador Tasso Jereissatti.
Na avaliação do senador Aécio Neves, a agenda que está em curso no Brasil é a proposta do PSDB de 20 anos atrás, que começa com a estabilidade econômica, passa pela modernização da economia e pelos programas sociais, e vem sendo conduzida pelo atual governo com avanços em algumas áreas, como a distribuição de renda, e retrocessos em outras, como a questão ética na política e a não formalização das grandes reformas estruturais que são necessárias para que o país realmente se desenvolva.
Nesse seminário, além do resgate do legado para mostrar que, se o Brasil hoje vai bem, é porque "tivemos a ousadia de fazer o que fizemos", Aécio diz que vão focar para o futuro basicamente na educação básica e na saúde.
Antonio Lavareda fez uma "auditoria de marketing" para o PSDB que não é apenas uma pesquisa, mas um diagnóstico pós-eleitoral.
O objetivo do trabalho é fornecer subsídios para a reestruturação do organograma partidário de um modo geral e em especial da parte de marketing e comunicação.
O balanço da análise mostra que do ponto de vista da principal eleição do país, que é a presidencial, o PSDB desde que deixou o poder, em 2002, nas três últimas eleições seguintes, em que pesem as derrotas, tem tido uma votação ascensional.
Levando-se em conta os resultados dos segundos turnos, há crescimento linear do desempenho do partido, mostra Lavareda. Mas, ainda assim, na última eleição o partido chegou apenas a 84% da votação que teve em 1998, quando ganhou no primeiro turno com FH.
Em algumas regiões, como no Sul, já chegou na última eleição a 94% do que atingiu em 98; no Sudeste, a 87%, no Centro-Oeste, a 80%; no Norte, a 74%. No Nordeste onde o problema é maior, o desempenho de 2010 já foi substancialmente melhor do que em 2006, alcançando 72% da votação de 1998.
Foram eleições difíceis e perdidas, mas a pergunta, para Lavareda, tem de ser: perdeu indo para baixo ou indo para cima?
No Sudeste e no Centro-Oeste, por exemplo, o partido está próximo de atingir os 50% dos votos.
Nos governos estaduais há claro perfil ascensional, mas para deputados estadual e federal tem havido um declínio, assim como nas eleições para vereadores e prefeitos, o que se constitui na grande preocupação do partido, sendo necessário, para Lavareda, grande esforço para reverter isso já nas eleições 2012.
Essa queda tem exceções, como no Sudeste, onde o perfil de eleição de prefeitos é de crescimento, e no Sul, onde é estacionário. Nas demais regiões, o declínio é importante.
O estudo demonstra que há grande relação entre nossas eleições intermediárias para prefeitos e vereadores e a das bancadas de deputados estaduais e federais subsequentes.
Do ponto de vista de "emoções negativas", há uma grande proximidade das médias, PT e PSDB se igualam na rejeição. A distância maior se dá no campo das emoções positivas, o que mostra, para Lavareda, que o caminho importante para o PSDB trilhar é cultivar os laços positivos com a sociedade, em vez de demonizar o PT.
Este novo Brasil que está surgindo, com a classe C emergente, quer isso. Setenta por cento dos brasileiros concordam que os governos FH e Lula juntos representaram nova fase na nossa História, e 45% concordam que esse novo país começou com a criação do real.
De lá para cá, nos governos de FH e Lula e agora no de Dilma, apesar dos problemas que surgem, o país vem melhorando a cada ano, na opinião da maioria dos entrevistados.