Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência
Voltamos mais uma vez ao debate sobre polarização. Pesquisa divulgada pelo Datafolha em 05 de abril de 2023 revela que 30% dos votantes se dizem petistas e 23% bolsonaristas. Vejam, inicialmente, que existem duas definições diferentes. Elas não podem ser comparadas. Ser petista não significa ser lulista. O que a pesquisa faz é verificar o montante de petistas versus bolsonaristas. E não a frequência de lulistas versus bolsonaristas.
O lulismo, não canso de repetir, é fenômeno econômico identificado em uma pessoa. O bolsonarismo é fenômeno ideológico e moral identificado em uma pessoa. O petismo não é necessariamente um fenômeno. O PT, como variadas pesquisas revelam, é um partido político com muitos admiradores. Neste ponto, fica a dúvida: é o lulismo que incentiva a admiração ao petismo ou é o petismo que conduz a admiração ao lulismo? Obviamente, que o lulismo é muito maior do que o PT.
Identifico o tamanho do lulismo entre os votantes que aprovam (Ótimo/bom) o atual governo Lula. De acordo com o Datafolha, os adeptos do lulismo são hoje 38%. Confesso que este não é um indicador satisfatório. Todavia, serve para deixar claro que lulismo é diferente de petismo. Portanto, se é para verificar a polarização no ambiente eleitoral é necessário indagar sobre lulismo e bolsonarismo.
Às véspera da eleição do 2° turno da eleição presidencial, 44% dos votantes declararam que não votariam em Lula e 48% em Bolsonaro – Genial/Quaest. Rejeições próximas. Em razão disto, o resultado das urnas foi tão apertado. Com base exclusivamente nestes dados e do desempenho de Lula e Bolsonaro na última disputa presidencial é verdadeira a afirmação de que a eleição foi polarizada. Mas não é necessariamente correta a assertiva de que o Brasil está polarizado.
Se 30% são petistas e 23% bolsonaristas, onde estão o restante dos votantes? Em dezembro de 2021, 24% dos votantes (neutros) preferiam que nem Lula e nem Bolsonaro vencesse a eleição. 46% desejavam Lula e 24% Bolsonaro – Genial/Quaest. O Lula, em 2021, já era favorito para ganhar a disputa. Bolsonaro cresceu entre os votantes neutros, os quais, naquele momento, poderiam ser classificados como antilulistas e antipetistas. O tamanho real do bolsonarismo neste instante é semelhante ao apontado pelo Datafolha em sua última pesquisa: 23%. Conclusão: O Brasil não está polarizado. Todavia, Bolsonaro segue, ainda, como alternativa aos que não gostam de Lula e do PT.