O adiamento das eleições

O adiamento das eleições

Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor Associado da UFPE.

As eleições municipais de 2016 foram disputadas com crise econômica. Foram inúmeros os prefeitos que utilizaram a referida crise para justificar que não foi possível fazer mais. O sucesso de tal estratégia foi repetida por variados candidatos aos governos estaduais na eleição de 2018. Mas uma vez, a crise econômica permitiu o sucesso de variados competidores.

Neste ano, a crise econômica estará presente na eleição. Mas não só ela. As crises psicológica, política e do sistema de saúde também. A Covid-19 contribuiu para o reforço das crises citadas. O crescimento pífio da economia brasileira no ano de 2019 ofertava condições para a nacionalização da disputa municipal. O presidente da República governa em constante conflito com o Parlamento e governadores. O medo do desemprego e a percepção de que “as coisas já foram melhores” foram detectados por pesquisa qualitativa entre os eleitores antes da Covid-19. A saúde pública tem sempre destaque quando pesquisas quantitativas revelam o principal problema da cidade.

A quarentena parou o Brasil. Setor produtivo, profissionais liberais e trabalhadores informais esperam, ansiosamente, o retorno ao trabalho, pois a renda diminuiu ou desapareceu. Pesquisas revelam que as pessoas, em sua maioria, temem ser infectadas pelo Covid-19. A agenda da opinião pública é única: coronavirus. Tenho a hipótese de que o Covid-19 pode modificar as crenças da população. Após o declínio da curva de pessoas infectadas pela Covid-19 é possível que nova quarentena venha a ser necessária. O presidente Bolsonaro produz diariamente crises dentro da crise do coronavirus.

Como pedir votos logo após ao ápice da crise do coronavirus? Campanha eleitoral é contato físico, emoção, alegria, reuniões para a construção de alianças, olho no olho. Apesar da grande importância das redes sociais, nada substitui uma caminhada pelas ruas que foram calçadas, um abraço na dona de casa, um aperto de mão, um sorriso para a criança, uma frase de efeito numa reunião ou em um programa de rádio. Eleição exige conversa franca com eleitores e propostas exequíveis para as suas demandas.

Considerando que o número de vítimas do Covid-19 comece a declinar em maio, junho, julho e agosto serão meses decisivos para o controle da epidemia. Portanto, não é adequado começar a campanha eleitoral em agosto. Por consequência, não é possível ocorrer eleição em outubro. É necessário o adiamento da eleição municipal para novembro de 2020, quando será possível, teoricamente, abraçar o eleitor.  

 

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publicado 22/04/2020 - 10h34