Moro e a ironia do destino

Moro e a ironia do destino

A meritória e exagerada Operação Lava Jato foi liderada pelo então juiz Sérgio Moro.  Um grupo de dedicados procuradores mais Moro mostraram para a sociedade o sistema produtivo da política brasileira. Nem tudo que foi descoberto pela Lava Jato era ilícito. Se, por exemplo, o lobby fosse regulamentado no Brasil, os Tribunais teriam dificuldades de julgar determinados atores por crimes de corrupção.

A Lava Jato apresentou Sérgio Moro ao Brasil. O homem que enfrentou os poderosos e condenou um grande líder popular, o ex-presidente Lula, obteve a oportunidade de ser ministro da Justiça do presidente eleito Jair Bolsonaro. Como bem revelei em meu último livro, a Lava Jato contribuiu fortemente para o sucesso do bolsonarismo no recente pleito presidencial, pois conseguiu reduzir a popularidade do lulismo. Moro foi o algoz do PT nos âmbitos penal e eleitoral.

Ao ir para o lado do presidente Bolsonaro, Moro jurou independência. Talvez tenha feito isto por pura inocência. Algo normal. Afinal, política não é para principiantes. Entretanto, no exercício do poder, a independência tem limites em virtude dos conflitos. O presidente Bolsonaro até que tentou diminuir os conflitos. Optou por não construir base parlamentar. Não distribuiu ministérios entre os partidos. Um erro, aliás.

Entretanto, o presidente da República tem os filhos ao seu lado. Prole e pai exercem o poder na República. Algo incomum e perigoso. As instituições investigam os filhos do presidente. O pai tenta, acima de tudo, proteger os filhos. O jeito de ser dos filhos do presidente ameaça o mandato do pai.

Sérgio Moro pediu demissão. E ao fazer isto, condenou politicamente o atual presidente da República. Os filhos do presidente ameaçaram a independência de Sérgio Moro. Um motivo para a sua queda. O temperamento do mandatário da República, caracterizado por extrema desconfiança para com outrem, também foi motivo para a queda de Moro.

Ao chegar ao governo Bolsonaro, Sérgio Moro tinha duas opções: STF ou candidato a presidente da República em 2022. Hoje, a última opção é a que resta. Não tenho dúvida de que Moro será ator estratégico na vindoura eleição presidencial. Mas isto não significa que ele será um candidato fortemente competitivo.  Mas antes da eleição, existe um dado importantíssimo: Sérgio Moro ameaça a sua cria. Ou melhor: O ex-juiz da Lava Jato criou o bolsonarismo e hoje, aparentemente, tem condições de enfraquecê-lo. Se um dia Moro foi o criador, hoje ele pode ser o exterminador. Ironia do destino.

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publicado 06/05/2020 - 11h48