Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE.
Para decifrar crises futuras precisamos estar atentos à cadeia de eventos que estão presentes na trajetória. O presidente Jair Bolsonaro, desde o início do governo, fez a opção de causar tumulto para poder reinar. Tal decisão contraria qualquer recomendação verbalizada por políticos e estrategistas: para um bom governo é necessário diálogo e paz.
Quando o presidente da República ataca as instituições e escolhe o STF e a urna eletrônica como os principais inimigos, ele tem um objetivo muito claro: gerar tumulto e adquirir oportunidades para manter o poder. Bolsonaro aposta nas crises moral e institucional para ser reeleito. Inclusive, desconfio que ele considera a possibilidade da suspensão da eleição em virtude das crises.
As pesquisas eleitorais quantitativas têm mostrado que temas econômicos, como fome e desemprego, são preocupações majoritárias do eleitor. Entretanto, as pesquisas qualitativas têm ido além no ato de decifrar o estado emocional do eleitor. Investigação qualitativa realizada na capital pernambucana, coordenada por mim, e com a participação de 05 estudantes do curso de Ciências Sociais da UFPE, revela que as razões do voto vão além da economia.
O estado emocional do eleitor, de acordo com a citada pesquisa, é caracterizado pela irritação com a disputa política, preocupação com o futuro e desesperança. Os votantes, independente do candidato em que votam para presidente da República, não veem saídas para o Brasil, enquanto a guerra política estiver presente. Os eleitores que admiram Bolsonaro culpam o sistema político e dados valores presentes na sociedade pela situação do país. Os votantes do Lula afirmam que Bolsonaro não sabe governar e tumultua a vida brasileira.
A pesquisa qualitativa, realizada através da técnica entrevista em profundidade, a qual impossibilita a interferência de outros na fala do entrevistado, e, por consequência, é mais reveladora dos sentimentos humanos, mostram que os votantes, quando provocados mais de uma vez, sabem elencar, de maneira objetiva, os problemas econômicos do Brasil. Entretanto, para vários deles, independentes se são Lula ou Bolsonaro, o Brasil está tumultuado em razão da guerra política e da polarização.
Não será apenas a economia que orientará a escolha do eleitor. Temas morais estarão presentes e podem beneficiar Jair Bolsonaro. Enquanto o debate econômico beneficia o ex-presidente Lula. Embora, em algum momento, a defesa da democracia, tema moral/institucional, precisará fazer parte do discurso do ex-presidente. Qual tipo de debate definirá a eleição vindoura?