Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégia.
Nas condições de hoje, o presidente Lula tende a ser reeleito, se a oposição insistir no bolsonarismo. Não vencerá com folga. Todavia, repito, tende a vencer. A insistência da oposição em ter o bolsonarismo como padrinho reforçará a polarização e levará para o candidato antilulista a rejeição de Jair Bolsonaro. O ex-presidente tem votos. Contudo, eles, neste instante, não são suficientes para superar o lulismo.
O pecado da previsão é a equivocada leitura das pesquisas qualitativas e quantitativas. Se o estrategista as lê com paixão e simplicidade, como se dois mais dois são quatro, prognóstico equivocado surgirá. As histórias das eleições são importantes, além das pesquisas, para a construção da boa predição. Pesquisa do Datafolha divulgada em 03/08/2024 trazem dados que sustentam a minha afirmação de que o presidente da República tende a ser reeleito, repito, nas condições de hoje.
Com um ano e seis meses de governo, FHC, no seu primeiro mandato, tinha 30% de aprovação e foi reeleito. No mesmo período, no segundo mandato, a sua aprovação era de 19% e o seu candidato, José Serra, foi derrotado por Lula. Em agosto de 2004, o presidente Lula tinha aprovação de 35% e foi reeleito. No mês de setembro de 2008, o presidente Lula alcançou a histórica aprovação de 64% e conseguiu eleger Dilma Rousseff em 2010. Rousseff alcançou 62% de aprovação com um ano e seis meses de mandato e foi reeleita. No seu segundo governo, a aprovação em abril de 2016 foi de 13%. Dilma sofreu impeachment. Jair Bolsonaro, com um ano e seis meses de mandato, obteve 37% de aprovação, e Lula tem, neste momento, 35%.
Os que os dados sugerem? Com um ano e seis meses de mandato, um presidente da República com aprovação igual ou acima de 30%, tende a ser reeleito, a exceção foi Jair Bolsonaro. O ex-presidente não conquistou a reeleição em razão de que o bolsonarismo é fortemente rejeitado por diversas razões. Lembrando que a eleição de 2022 foi a eleição do medo, isto é: lulismo e bolsonarismo têm alta rejeição. Quem tiver a menor, vencerá o pleito. E assim aconteceu!
A pesquisa Datafolha trouxe outros dados relevantes: 1) 42% afirmam que a situação econômica do Brasil piorou nos últimos seis meses; 2) 46% têm o sentimento de que a própria situação econômica segue na mesma. 29% consideram que melhorou. E 24% que piorou; 3) 41% frisam que a situação econômica do Brasil irá melhorar. 28% dizem que piorará; 4) 23% têm a opinião de que a vida piorou depois da posse de Lula. 26% que melhorou. E 51% que permaneceu igual. Os que esses dados revelam?
O lulismo é fenômeno econômico. Portanto, o seu sucesso ou declínio depende fortemente do bem-estar econômico dos brasileiros. Pesquisas revelam percepções, as quais orientam a escolha do eleitor. O desafio de Lula é construir otimismo econômico. E esse advirá do controle da inflação, do aumento do consumo e de políticas de proteção social. Nesse instante, os dados do Datafolha não são confortáveis para Lula, mas sugerem o obvio: eles poderão ser, caso o presidente da República traga benefícios econômicos. Vejam que 41% afirmam que a situação econômica do Brasil melhorará.
Um dado preocupante para Lula: 51% dos votantes consideram que a vida permaneceu igual após a sua posse. Nesse caso, parcela do eleitorado considera que “a minha vida (econômica?) não mudou em nada depois de Bolsonaro”. Esse sentimento precisa diminuir para que Lula possa dizer que com ele, o Brasil melhorou, avançou. E, por consequência, o bolsonarismo seja enfraquecido.
Volto ao início do meu artigo: o Lulismo segue favorito para 2026 não porque está entregando fortemente benefícios econômicos, mas em razão da rejeição do bolsonarismo. Enquanto a oposição insistir em Bolsonaro, o mínimo que Lula fizer trará bônus. Lembrando: a minha previsão considera que grandes escândalos de corrupção e grande declínio econômico não acontecerão na era Lula.