Lula ignora os novos eleitores

Lula ignora os novos eleitores

Silvana (nome fictício), em 2014, era cabelereira na cidade de Petrolina. Ela revelou em pesquisa qualitativa da Cenário Inteligência, forte admiração ao ex-presidente Lula, pois “foi este que fez o Estado bater na nossa porta”. Confesso que nunca mais esqueci desta frase, a qual me fez entender satisfatoriamente o lulismo. Artur (nome fictício), ex-morador de uma cidade do Sertão de Pernambuco, relata que foi beneficiado por várias políticas das eras Lula e por diversas vezes votou no PT, mas hoje, como empreendedor, não mais tem disposição para votar na reeleição do presidente da República.

Recentes pesquisas qualitativas realizadas na última eleição municipal trouxeram variados sentimentos dos votantes para com o presidente Lula: “Gosta dos pobres”, “Já roubou”, “Muito melhor do que Bolsonaro”, “Já deu!”. Recentemente, estas frases estão sendo coletadas em variadas pesquisas na região Nordeste. Os dados qualitativos sugerem a decadência do governo Lula, em particular, do lulismo. Decadência não significa morte, mas declínio, o qual pode ser passageiro ou não.

No meu livro “Qual foi a influência da Operação Lava Jato no comportamento do eleitor? Do lulismo ao bolsonarismo” (Editora CRV, 2019), revelei que a Lava Jato foi a algoz do lulismo e do PT. Entre 2014 a 2018, período em que os atores da Lava Jato atuaram intensamente, o lulismo e o PT sofreram forte declínio, em especial, o primeiro, já que ele era muito intenso entre os eleitores. A referida Operação levou para o PT e para o presidente Lula a marca da corrupção. Pesquisas qualitativas realizadas recentemente revelam que esta marca segue forte.

No ano 2000, os evangélicos representavam 15,4% da população. Em 2010, 22,2% (Cristina Queiroz, Nexo, 09/12/2019). Nesta época, os institutos de pesquisa não segmentavam a população por religião. Na atualidade, assim fazem. Hoje, tem-se a expectativa de que a população evangélica esteja em torno de 30%. A última pesquisa CNT/MDA considera em seu plano amostral que 28,4% dos eleitores são evangélicos. No período de 2010 a 2014, o número de templos evangélicos dobrou. Em 2024 são mais de 140 mil templos (Assert Management, 2025).

No ano de 2009, o Brasil tinha 44.188 empreendedores individuais (MEI). Em 2019, eram 7 milhões (Pequenas Empresas e Grandes Negócios, 01/02/2019). No ano de 2022 existiam 14,6 milhões (IBGE, 2024). De acordo com a Agência Sebrae, a categoria microempreendedor individual é a que tem mais crescido no Brasil (05/02/2025). O Valor Econômico revela que o Ensino Superior triplicou em duas décadas (27/02/2025).

Todos os dados apresentados são evidências robustas que sugerem que a impopularidade atual do presidente Lula não é de responsabilidade exclusiva da comunicação. Novos eleitores surgiram no Brasil, não necessariamente porque nasceram, mas em virtude de que as demandas dos votantes observadas no período do nascimento e consolidação do lulismo, 2002 a 2010, foram modificadas.

O lulismo elevou os indicadores sociais e emancipou, através de políticas públicas bem-sucedidas, indivíduos. Se antes existia o trabalhador; hoje estão presentes os empreendedores. Se outrora estavam presentes indivíduos ávidos por entrar numa universidade pública ou particular; hoje são milhões de brasileiros e brasileiras que concluíram a formação universitária. Se nos anos 2000, os evangélicos não tinham densidade no eleitorado, atualmente possuem. Portanto, o Brasil está diante de novos eleitores.

São os novos eleitores que exigem que o PT e o lulismo tenham novo discurso, novas agendas, as quais devem atender as demandas que surgem. O PT e o lulismo aparentam ser hoje arcaicos. Falam a mesma coisa que falaram no passado e desconsideram as mudanças que aconteceram na sociedade brasileira em razão dos governos lulistas. São 60,1% dos eleitores que consideram os discursos do presidente Lula desatualizados e repetitivos (CNT/MDA, 23/02/2025).

Por Adriano Oliveira – Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa Qualitativa & Estratégia.

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publicado 06/03/2025 - 02h49