Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE.
A força eleitoral do ex-presidente Lula desorganiza a eleição nos estados nordestinos. Não é possível construir cenários e definir estratégias eleitorais no Nordeste sem considerar a força centrípeta que o líder do PT exerce sobre eleitores e políticos. Não existe mistério na eleição para governador: mesmo que um candidato (a) não lulista esteja à frente nas pesquisas, ele, em algum momento, terá que criar estratégias para enfrentar a nacionalização da campanha criada pelo competidor que tem o apoio de Lula. Urge, portanto, descobrir, através das sábias pesquisas qualitativas, estratégias para enfrentar a nacionalização.
Os partidos passam um bom tempo discutindo “chapa”. Em razão da ausência da coligação na disputa proporcional, as agremiações estão extremamente preocupadas com as chances dos candidatos. O eterno e necessário cálculo eleitoral predomina nos diálogos entre os políticos. No partido A, a “chapa faz 2”. No partido B, “a chapa faz 3 pra Federal”. Se “ocorrer a federalização, é possível fazermos 3”. Este debate é lógico e necessário. Contudo, ele sofrerá, de qualquer modo, influência da eleição nacional.
Se o partido A descobre que é melhor não ter candidato a governador, pois seu candidato é supostamente (repito: supostamente) não competitivo em razão de que ele não tem o apoio do lulismo, a sua estratégia principal é priorizar a eleição proporcional. Pois uma boa bancada na Câmara dos Deputados trará recursos públicos. Assim ocorrendo, o partido poderá optar por apoiar o candidato ao governo do Estado que tem o apoio do lulismo ou ficar neutro na disputa.
Existem os partidos que não caminharão, de modo algum, com o candidato lulista ao governo do Estado. Os candidatos proporcionais desses partidos não pedirão votos para nenhum opositor de Lula, mas isto não significa que pedirão votos para o candidato do PT. Serão estratégicos: “cada caso, é um caso”, diz um sábio deputado. Para o eleitor lulista, o qual não é obrigatoriamente petista, ele elogiará Lula. Diante do eleitor não lulista, ele poderá pedir voto para algum presidenciável ou ser neutro.
O bolsonarismo no Nordeste tem vida. Apesar da alta rejeição. Isto significa que os candidatos que pedem votos para o presidente Jair Bolsonaro têm chances de conquistarem mandatos. Não digo o mesmo quanto às chances de sucesso na disputa majoritária. Uma ressalva simples: em razão da aprovação do Lula, o seu eleitorado é maior. Portanto, o lulismo tem mais capacidade do que o bolsonarismo para eleger deputados.