Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
O encontro de lógicas torna inteligível a Análise de Conjuntura. As lógicas observáveis orientam a construção de estratégias eleitorais eficazes. Não é recomendável desprezar lógicas presentes nas eleições, pois elas são variáveis preditoras. As lógicas perceptíveis também amenizam a incerteza, a qual é característica de qualquer processo eleitoral, pois acasos (Cisnes Negros) também são passiveis de acontecer, e podem vir a fazer parte da lógica da eleição, ou seja, em períodos eleitorais, eventos não previsíveis surgem.
Recente pesquisa do Datafolha (29/11/2013) revela que 66% dos eleitores brasileiros desejam que as ações do próximo presidente sejam diferentes das atuais. Tal dado, nos sugere que candidatos da oposição tendem a vencer a eleição presidencial de 2014. Postulantes da oposição têm chances de vencer o pleito presidencial de 2014. Porém, os competidores oposicionistas não devem simplificar a interpretação do desejo de mudança.
Se 66% dos eleitores desejam mudança, por que a intenção de voto da presidente Dilma e a aprovação do seu governo cresceram após as manifestações de junho de 2013?Observem, que após as manifestações, a avaliação da presidente Dilma e a sua intenção de votos declinaram e voltaram a crescer. Diante deste fato, temos que considerar a hipótese de que não foram as manifestações que possibilitaram o desejo de mudança. Especulo que tal desejo já existia. Mas, diante disto, o que é mudança para o eleitor?
Mudar representa o desejo de uma nova realidade. Uma nova ação e postura do ator político. Portanto, mudança representa metamorfose. Deste modo, eleitores desejam que as ações realizadas hoje por dado governante sejam modificadas em razão de que existem demandas na sociedade, como no caso da saúde pública, que requerem soluções.
A metamorfose pode ocorrer para o eleitor em duas possibilidades. No primeiro âmbito, o eleitor deseja mudança, mas não necessariamente a troca do gestor. Ele deseja que o gestor mude as suas ações e conduta. Na possibilidade seguinte, o eleitor deseja mudança do gestor. Isto é: outro gestor venha a substituir o governante de então.
As duas possibilidades estarão presentes na eleição presidencial de 2014. Ambas as possibilidade são lógicas, portanto, coerentes. A presidente Dilma se recupera eleitoralmente e 25% dos eleitores declaram que não votam de modo algum nela (Datafolha). Saliento, ainda, que a reprovação (ruim/péssimo) do governo Dilma é de 20% (IBOPE, 13/12/2013).
Destaco que em 09/09/2002, 76% dos eleitores desejavam mudança. Neste ano, Luis Inácio Lula da Silva venceu a eleição contra José Serra. Em 2002, o governo de FHC tinha avaliação positiva (ótimo/bom) de 23% (Datafolha, 27/09/2013) e não podia ser reeleito. Lula, em 2010, apoiou Dilma Rousseff. Neste ano, o governo Lula era aprovado por 78% (22/09/2010). E Lula também não poderia ser reeleito.
FHC e Lula diferem quanto à aprovação no último ano do mandato. Neste sentido, podemos ter a hipótese de que as respectivas aprovações contribuíram para a continuidade (PT) e a descontinuidade do poder (PSDB). Por outro lado, FHC e Lula, ao serem candidatos à reeleição, tinham aprovação de 43% (Datafolha, 02/09/1998) e 47% (Datafolha, 27/09/2006), respectivamente.
Constato, portanto, lógicas nas recentes eleições presidenciais brasileiras. Os dados sugerem que quando o presidente pode ser reeleito, o eleitor, a partir de dado porcentual de aprovação, tende a continuidade. Quando ele não pode ser reeleito, o eleitor tende a mudança, em particular, quando a aprovação do presidente é reduzida. Tais lógicas devem ser encaradas como hipóteses, mas também como alertas aos competidores opositores à presidente Dilma na disputa vindoura.