Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
Os evangélicos estarão em paridade com os católicos em 2030, segundo previsão do demógrafo José Eustáquio. Há muito tempo, os partidos dão espaço aos candidatos evangélicos para a eleição proporcional, pois sabem que eles arregimentam votos, muitos são eleitos e contribuem para o quociente eleitoral. Em disputas majoritárias também já é notório a importância deles. A depender da conjuntura eleitoral, vices evangélicos terão prioridade na formação da chapa.
O presidente Jair Bolsonaro, segundo a última pesquisa do Datafolha, tinha 69% dos votos válidos entre os evangélicos; e Lula, 31%. A larga vantagem do candidato à reeleição exige que o novo presidente dê atenção especial ao segmento. A vantagem de Bolsonaro no estrato evangélico sugere que em 2026, candidatos favoritos a vencer o pleito presidencial poderão optar por ter vices evangélicos. E que após 2030, não será surpresa se o Brasil eleger um presidente evangélico.
Os eleitores pobres importam. Tal lógica é óbvia, mas desprezada por vários candidatos a presidente e a governador. Vejam o debate atual sobre gastos públicos. Lula acerta ao defender o Bolsa Família de R$ 600 e o reajuste do salário mínimo acima da inflação. Uma das causas para o retorno do lulismo à presidência da República foi que ele sempre deu atenção especial aos votantes de menor renda. É necessário que candidatos aos cargos majoritários falem com os pobres sobre economia, saúde e transporte público.
A nacionalização da disputa estadual importa para explicar a eleição. Todavia, destaco que a tradição permanece: governadores bem avaliados tendem a ser reeleitos ou eleger o seu sucessor. Bahia e Ceará são exemplos. Quando o governador tem alta aprovação, é difícil encontrar a força da nacionalização, embora ela exista. Se o governador é mau avaliado, o efeito da nacionalização é enfraquecido. Observei isto na eleição de Pernambuco. Porém, se o PSB tivesse mostrado no guia eleitoral o desempenho de Paulo Câmara durante a pandemia e a responsabilidade fiscal do seu governo, ele teria recuperado popularidade e o seu candidato disputaria o 2° turno?
O bolsonarismo mostrou força nas eleições proporcionais. O PL elegeu 99 deputados federais. Em Pernambuco, o Pastor Júnior Técio (PP-PE), candidato ao Legislativo estadual, obteve 183.735 mil votos; e Alberto Feitosa (PL-PE), 146.847 mil. A força do bolsonarismo nas eleições legislativas de 2024 tende a permanecer, mas não a vejo em disputas majoritárias. Vislumbro processo de desbolsonarização da competição eleitoral.