Jabuticaba mista
Merval Pereira de O Globo
A comissão do Senado que estudará uma proposta de reforma política, composta na maioria por ex-governadores e dois ex-presidentes da República, começa a trabalhar hoje já com uma tendência contra o voto proporcional prevalecendo. Com a disputa entre o voto em lista fechada e o "distritão" colocada na mesa de discussões, o debate receberá já de saída uma sugestão de peso: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) propõe uma junção das duas propostas preponderantes para criar uma terceira via, em busca de um consenso que se mostra difícil de alcançar.
Se o "distritão", sistema que parece ter a preferência, é uma espécie de jabuticaba política — só existirá no Brasil se for adotado —, Aécio propõe uma jabuticaba mista, isto é, que o voto em lista fechada seja adotado junto com o "distritão".
O voto em lista fechada, em que o eleitor vota na legenda e o partido faz a lista dos candidatos, tem o apoio do PT, mas é rejeitado pela maioria dos políticos, e também pela opinião pública.
Os políticos, porque temem ficar nas mãos da "ditadura partidária", na qual a direção terá poderes para montar a lista na ordem que lhe aprouver.
Os eleitores, porque rejeitam a possibilidade de não votar diretamente no seu candidato, mas sim em uma lista que não pode ser mexida.
O "distritão" tem o mérito de valorizar o voto majoritário, elegendo os candidatos mais votados.
Se o primeiro fortalece os partidos de maneira radical, dando às suas direções o poder de escolher a ordem em que cada candidato entrará na lista, o segundo fortalece os candidatos, mas contribui para o enfraquecimento dos partidos.