Com a inflação e o alto endividamento das famílias, os gastos dos brasileiros no varejo perdem força.
É o que mostra um estudo exclusivo da Kantar Worldpanel, empresa de informações sobre consumo.
O levantamento, feito de forma contínua com 8.200 domicílios do país, revela que o consumo cresceu, em valor, 13% nos 12 meses até março deste ano sobre o mesmo período de 2010.
Foram monitorados renda e detalhes de compras, como tipo, preço e procedência.
Considerando só o primeiro trimestre, a alta chegou a 12%. No ano todo de 2009 a expansão foi de 17%. Os números não descontam a inflação. Para ter uma ideia de como o aumento dos preços pesa no resultado, basta observar que, nos primeiros três meses deste ano, o volume de compras (quantidade de itens) cresceu apenas 2% em comparação com os 12% em valor.
"Com os produtos mais caros e a renda muito comprometida, o consumidor racionalizou as compras, principalmente de alimentação", diz Fatima Merlin, diretora de varejo da Kantar Worldpanel.
Ainda segundo os números da empresa, o gasto superou a renda em 53% dos lares em 2010 (dado mais recente apurado). Em 2009, essa situação era observada em 50% das residências.
A renda média mensal está em R$ 2.146, enquanto a despesa está em R$ 2.171.
No ano anterior, a renda estava em R$ 1.889 e o gasto médio, em R$ 1.863.
ITENS BÁSICOS
Merlin diz ainda que a desaceleração é mais intensa na compra dos itens considerados básicos, com grande presença nos lares, como arroz, feijão e leite.
Produtos mais sofisticados, como cremes e loções, "sofrem menos".
"Com mais emprego e mais crédito, houve uma mudança importante nos hábitos de consumo. Mas 80% dos consumidores brasileiros são das classes C, D e E, e suas decisões de compra estão, sim, suscetíveis a questões conjunturais, como inflação e endividamento", afirma.
AMÉRICA LATINA
A tendência de desaceleração é observada também na média da América Latina.
O estudo considera 33 mil domicílios de 15 países, incluindo o Brasil.
Em toda a região, o consumo, que, em valor, cresceu 16% em 2009, teve expansão de 11% nos 12 meses até março deste ano.
Os dados também consideram a inflação. Por isso, as variações em países como Argentina e Venezuela ficam bem acima dessa média, embora com retração no volume de compras.