O físico Leonard Mlodinow através de duas obras brilhantes revela o papel do acaso e do inconsciente na dinâmica social e nas escolhas dos indivíduos. Em O andar do bêbado (Editora Zahar), Mlodinow mostra como acasos podem estar presentes na trajetória dos indivíduos. No livro Subliminar(Editora Zahar), Mlodinow mostra que o inconsciente guia, por vezes, as decisões dos indivíduos. Ambas as obras, depois de lidas com atenção, incentivam a reflexão sobre as escolhas dos atores e eleitores e quanto aos acasos eleitorais e políticos na conjuntura.
Ao vislumbrar cenários eleitorais e políticos para 2014, acasos precisam ser considerados. Por exemplo: se o ex-presidente Lula optar por ser candidato à presidente, Eduardo Campos manterá a sua candidatura? Se Aécio Neves disputar o segundo turno contra Dilma, quem Eduardo Campos apoiará, já que ele também disputou a eleição presidencial? Se Eduardo Campos conquistar 10% de intenção de votos em março do próximo ano, Aécio Neves manterá a sua candidatura? Se Serra optar por se filiar a outra legenda e apoiar Eduardo Campos, os eleitores paulistas considerarão o governador de Pernambuco como opção na disputa presidencial?
As indagações apresentadas não estão sendo feitas pelos analistas políticos neste momento. Mas elas precisam ser exibidas, pois os acasos fazem parte da conjuntura política e, por isto, não podem ser desprezados, pois eles devem ser considerados antes da construção das estratégias. Quando os acasos são ignorados pelo estrategista, as decisões tomadas podem vir a ser equivocadas.
O bem-estar econômico continua a ser o determinante do voto mais destacado pelos analistas quando da análise do possível comportamento do eleitor em 2014. Considerar o bem-estar econômico como determinante suficiente para explicar a escolha do eleitor é por demasia atitude equivocada. O bem-estar econômico importa. Mas fatos empíricos, como as recentes disputas presidenciais chilenas, e o argumento em torno da decisão inconsciente construída por Mlodinow, revelam que a economia importará, mas nem tanto em 2014.
Indivíduos fazem escolhas, mas nem sempre eles sabem identificar objetivamente as razões destas escolhas. Cabem as pesquisas qualitativas e quantitativas, além de ferramentas advindas da neurociência, identificar os desejos e os motivos que levam ou podem motivar o eleitor a fazer determinada escolha. Portanto, neste instante, os eleitores que admiram Dilma e aprovam o seu governo não o fazem apenas porque continuam a consumir e porque estão empregados, mas também em virtude de reconhecer na presidenta qualificativos positivos, como coragem e firmeza – hipótese. Neste sentido, as decisões tomadas por Dilma Rousseff provocam determinados eleitores à admirá-la. Em razão da admiração, os eleitores poderão optar pela continuidade em 2014.
Ao desconsiderar os acasos e os atos inconscientes dos eleitores é possível que a miopia venha a orientar as análises eleitorais. Elas, por exemplo, sugerem, neste instante, que o principal adversário de Eduardo Campos é o PT. Engano. Eduardo é sim o principal adversário do PT. Mas o principal adversário de Eduardo é o PSDB, pois para Eduardo estar no segundo turno, Aécio precisa ser superado. Portanto, o raciocínio “consciente” apresentado corriqueiramente está equivocado, pois Eduardo terá que conquistar, inicialmente, as mentes (o inconsciente) dos eleitores que não desejam Dilma ou estão propensos a fazerem nova escolha eleitoral em 2014.
Os acasos e o inconsciente são, por vezes, duas categorias desprezadas da análise política e também do raciocínio dos atores. Em virtude deste desprezo, análises e ações míopes são costumeiramente observadas.