As Ciências Sociais buscam identificar e decifrar eventos que ocorrem no ambiente social. Os eventos são criados pelas ações e interações humanas. Crises são eventos, os quais representam o início de uma ruptura com uma ordem X, por exemplo. Ou uma turbulência na ordem X, mas sem ruptura para uma nova ordem – Y.
Crises políticas são comuns em ditaduras e em democracias. Por conta da liberdade da mídia, as crises são mais comuns e mais visíveis em democracias. Crises políticas significam rupturas ou turbulências em torno de um ou vários atores, os quais integram dada instituição.
Crises políticas podem ser evitadas. Mas para tal fato ocorrer, atores precisam prognosticar possíveis crises. Neste caso, os atores devem exercitar a memória cotidianamente. Lembrar das ações do passado e refletir sobre as ações do presente são atitudes que devem guiar atores políticos que desejam disputar uma eleição ou vir a ocupar um cargo público, como por exemplo, um ministério.
Em sociedades democráticas, a mídia exerce intensa função fiscalizadora. Os passos do ator político são vigiados. E os passos deste ator político no passado também. Em razão disto, crises poderão surgir em virtude da ação midiática e não da ação de uma instituição estatal.
A ação fiscalizadora da mídia é um evento que necessariamente precisa ser melhor compreendido por parte dos atores políticos e dos cientistas políticos. Constato que no Brasil, as instituições públicas perdem espaço para a mídia ou esta preenche um dado espaço que deveria ser ocupado pelas instituições públicas.
Desde a era FHC, verifico que as crises políticas não foram motivadas pelas ações das instituições estatais. Mas pela mídia. Foi ela que investigou, publicizou e proporcionou crises governamentais. Em particular, quedas de ministros. No governo Dilma, vários ministros foram sucumbidos em razão da atuação dos órgãos de comunicação. E as turbulências ocorridas em seu governo também foram provocadas pela mídia.
As crises governamentais contemporâneas requerem novas ações por parte dos atores e estrategistas junto à mídia e à opinião pública. A criação de fatos positivos para integrarem a agenda da mídia é necessária, mas não suficiente para evitar crises, independente da sua dimensão.
Atores políticos precisam ficar atentos, caso desejem conquistas futuras, as suas ações do presente, as quais, com o tempo, virarão ações passadas, mas que já estão repercutindo no futuro. As ações presentes dos atores devem vislumbrar as conseqüências. E a mídia não pode ser mais encarada como algo qualquer, no caso, uma instituição que divulga notícias de um dado ator enviadas pela assessoria de imprensa.