Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.
Até o instante, não existe forte oposição ao governo Lula. Os que tentam ser, concentram a ação na defesa da CPI dos atos de 8 de janeiro e seguem atrelados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles, e são poucos, ainda não descobriram, e o maior exemplo disto é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que a desbolsonarização da política ocorre. Jair Bolsonaro é tóxico. Ele só sobreviverá, caso o governo do PT leve o Brasil para a argentinização. Cenário bastante remoto.
Volto a repetir: o lulismo é fenômeno econômico. Portanto, a oposição ao governo Lula precisa ser no âmbito da economia. Como a Lava Jato enfraqueceu o lulismo, a dimensão moral do governo pode ser questionada, caso existam escândalos de corrupção de membros do PT que participem do governo e que não recebam punição imediata. Se a economia for bem e não acontecerem atos ilícitos no governo, o discurso da oposição terá pouca força.
Até o instante, em razão da incivilidade e incompetência econômica do governo anterior, o presidente Lula faz de razoável para bom governo. Defendeu a democracia e agiu com firmeza contra os atos antidemocráticos. Colocou o Estado para defender e preservar os Yanomamis. Promoveu, acertadamente, a recondução de Artur Lira e Rodrigo Pacheco para as presidência da Câmara Federal e do Senado. Tem procurado governar com variados partidos. O presidente Lula, até o instante, felizmente, não tece comentários críticos à imprensa.
Em razão do lulismo ser fenômeno econômico, o governo Lula precisa ter sucesso na condução da economia. Vejo que ele tem feito o que é preciso fazer. Não titubeou em reonerar os combustíveis. Com esta atitude, Fernando Haddad, ministro da Economia, sinalizou ao mito mercado que não permitirá populismo fiscal. Haddad já anunciou que em breve apresentará ao Congresso Nacional novo arcabouço fiscal. Sempre está presente na fala do gestor da Fazenda, a defesa do controle dos gastos públicos. A reforma Tributária também será apresentada aos parlamentares. Portanto, medidas econômicas que têm efeitos positivo para médio e longo prazos estão sendo realizadas.
O presidente Lula resgata a agenda social. Anunciou o novo Bolsa Família, trouxe de volta o Minha Casa Minha Vida, lançará o Desenrola, programa para parcelamento de dívidas, e segue mantendo o discurso legitimo, coerente e correto, o qual, é importante destacar, explica a sua popularidade: defesa intransigente da inclusão social. No âmbito da agenda internacional, fez ressurgir o diálogo com vários países. E também começou a visitá-los. Destaque para o encontro com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. A pauta do meio ambiente foi retomada com ênfase. Portanto, o novo governo Lula faz o que é esperado de um razoável para bom governo.
A oposição tem chance de fazer oposição eficiente ao governo Lula se questionar o desempenho econômico do Brasil. Por exemplo: os preços dos combustíveis aumentaram, os juros serão reduzidos? Qual medida possibilitará o aumento da capacidade de investimento estatal em infraestrutura? Existirá programa de privatizações de empresas deficientes? Qual será a nova política de reajustes dos combustíveis da Petrobrás? Mais recursos serão liberados para Estados e municípios em razão do retorno da tributação dos combustíveis? Estas são algumas perguntas que a oposição pode fazer ao governo.
É claro que o atual governo tem grandes desafios, os quais, se não forem contemplados, a oposição poderá explorar. Por exemplo: 1) Além da retomada da política de vacinação, o que o ministério da Saúde propõe para melhorar a saúde pública, em especial, no âmbito de ações que incentivem a presença de médicos no Brasil profundo? 2) Quais as ações para a ampliação do acesso, em particular dos pobres, ao ensino superior público e privado? 3) Qual programa permitirá a construção de mais creches em diversas cidades?
Prevejo, caso ocorra bom diálogo entre Congresso Nacional e governo, que a reforma Tributária será aprovada, além do novo arcabouço fiscal. Em razão disto, a queda dos juros e o controle da inflação ocorrerão. Em seguida, crescimento econômico. Conclusão: a oposição terá dificuldade para ser eficiente contra o atual governo. Todavia, mesmo diante desta dificuldade, a oposição existirá e estará viva em 2026.
O antilulismo poderá, claro, ser amenizado. Mas seguirá existindo. Ele não será, importante salientar, exclusivamente bolsonarista, até porque nunca foi. Deste modo, vejo oportunidades para atores oposicionistas. Até o instante, acompanho com muita atenção, o desempenho do governador Tarcísio de Freitas. Caso ele apresente São Paulo como modelo de gestão e crescimento econômico, Tarcísio será alçado, naturalmente, como candidato a presidente da República em 2026 e assumirá a liderança do antipetismo, o qual deverá estar de razoável para fraco.