Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE.
São 400 mil mortes. O Brasil procura um responsável. O contrafactual entra em cena. Serve para especularmos. Se o presidente da República fosse outro, a Covid-19 mataria tanta gente? Parcela do eleitorado responsabiliza alguém por tantas mortes? O tempo poderá trazer as respostas.
Por que o presidente da República não incentiva o uso de máscara? Por que o presidente da República não centralizou no governo Federal as ações contra a Covid-19? Por que a vacinação no Brasil está lenta? Por que o governo Federal não dialoga com prefeitos e governadores para que ações contra a Covid-19 sejam únicas e organizadas? Por que o governo Federal não apoiou/apoia medidas de isolamento social? Por que um ministro declarou que tomou vacina escondido? Por que três ministros da Saúde foram demitidos em plena pandemia?
As perguntas apresentadas são vitais para decifrarmos o que motivou o Brasil a chegar a terrível marca de 400 mil mortes. É possível que a CPI da Covid-19 encontre respostas. O governo Federal tem a sua narrativa. Ele criou, em parceria com o Congresso Nacional, o Auxilio Emergencial. Socorreu empresas. Liberou recursos para que Estados e municípios enfrentassem a Covid-19. Comprou e está comprando vacinas. Diante da grande tragédia, o presidente da República agiu.
Se algumas ações do governo Federal foram meritórias no enfrentamento à Covid-19, por que o presidente Bolsonaro insiste em ter estilo refratário à ciência e ao diálogo? Imagina se o presidente apoiasse, desde cedo, a vacinação. Agisse em parceria com governadores e prefeitos. Inclusive, visitando municípios e verificando com seus olhos as ações de enfrentamento a Covid-19. Imagina se o presidente Bolsonaro usasse máscara sistematicamente.
Mais casos de Covid-19, maior impopularidade do presidente da República. Tal relação é observada desde o início da pandemia. Embora a estabilidade em sua popularidade seja observável nas últimas pesquisas. A negação da ciência pode impedir a reeleição do presidente Bolsonaro. Por outro lado, é possível que parcela do eleitorado não venha a responsabilizar ninguém pela tragédia. Neste caso, os mortos tendem a ser esquecidos. O eleitor reconhecerá, ou já reconhece, que tantas mortes fazem parte do novo cotidiano. Ressalto: não desprezo a hipótese de que o esquecimento da tragédia venha a existir em parte do eleitorado em 2022.