Cresce preocupação com crise política e economia, mas Dilma ainda tem lastro
Thiago Azurem
junho 13, 2011
Folha de São Paulo, Mauro Paulino, 13/06/2011
É crescente a preocupação com as ameaças à estabilidade econômica, especialmente com a volta da inflação. Os brasileiros identificaram um desempenho titubeante do governo no caso Palocci, o que provocou desgaste na imagem de Dilma Rousseff.
Mas nada disso abalou o aval oferecido por eles à sucessora escolhida por Lula, que, por seu lado, recebe carta branca de 64% dos eleitores para participar das decisões do atual governo.
A recente pesquisa Datafolha, realizada após a queda de Palocci da Casa Civil, reflete também a repercussão do desfecho da crise.
Dilma tem o apoio de quase metade do eleitorado, sete pontos acima do obtido por Lula no mesmo período de seu primeiro mandato.
Mas só um terço aprova o desempenho da presidente na condução da crise e 60% acreditam que o episódio foi prejudicial ao governo.
Não se pode descartar, portanto, a hipótese de que algum abalo na popularidade de Dilma durante as semanas de turbulência pode ter sido revertido com as providências dos últimos dias.
Chama a atenção a inquietação com o cenário econômico atual. Acentuaram-se as tendências reveladas no levantamento de março, refletindo uma crescente percepção na piora da situação econômica pessoal e do país.
Desde o início do governo, há mais brasileiros preocupados com a perda do poder de compra, com a ameaça de crescimento do desemprego e, principalmente, com o aumento da inflação.
Algo em torno de 30 milhões de eleitores passaram, desde então, a compartilhar uma expectativa econômica pessimista. Por que, então, isso não abala a popularidade do governo?
Além do já citado aval concedido à "mulher de Lula", expressão que ecoa na base da pirâmide social, os ganhos econômicos dos últimos anos sobrepõem-se às ameaças pontuais de agora.
Hoje 21% afirmam que o rendimento mensal da família "é muito pouco, trazendo muitas dificuldades". É ainda uma parcela significativa da sociedade, mas muito menos numerosa do que em dezembro de 2002 (45%).
A herança do governo Lula dá a Dilma um lastro de confiança inabalado pelas ameaças econômicas nem tão concretas no cotidiano familiar. Mas os alertas e preocupações do eleitorado evidenciam-se nesta pesquisa.