A inesperada redução dos juros básicos da economia pelo Banco Central (BC) na última quarta-feira – em 0,5 ponto percentual, para 12% ao ano – se soma à recente defesa intransigente da necessidade de um ajuste fiscal robusto pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como sintomas de uma mudança de curso na política econômica: a formulação das ideias centrais passou às mãos da Presidência da República.
Economista de formação e uma controladora nata, nas palavras de seus subordinados, a presidente Dilma Rousseff tomou as rédeas da economia e vem moldando a equipe ao seu modo de pensar, no qual o fio condutor é um desenvolvimentismo apoiado no crescimento sustentado, em patamares mínimos de 4%.
Para especialistas, porém, o corte da Taxa Selic foi adotado na hora errada já que a inflação no país ainda não dá sinais de desaceleração.
– O sistema de metas de inflação está em xeque. Mudou a política monetária. O tripé superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação está um pouco mambembe – afirma Alessandra Teixeira, economista da Tendências Consultoria.
Para Alessandra, a queda da Selic em um momento de pressão inflacionária e temores em relação aos preços de commodities (produtos básicos com cotação mundial, como petróleo, soja e minério de ferro) é um indicativo de que o governo desistiu de convergir o IPCA para a meta de 4,5% em 2012, com intervalo de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Mesmo usando como justificativa a estimativa de agravamento da crise mundial para o corte, analistas acreditam que faltam fundamentos técnicos para a decisão.