Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 38 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Requer árduo esforço intelectual a escolha de um candidato para disputar a eleição majoritária. A inteligência do personagem que fará a escolha considera as objeções políticas advindas de outros atores para com um dado ator que é o preferido para ser o escolhido. Consideram-se também os desejos e o humor dos eleitores. A escolha de um candidato não é tarefa para principiantes.
Premissas baseadas na intuição ou na interpretação não adequada de pesquisas podem proporcionar escolhas equivocadas. A intuição e pesquisas de opinião pública têm costumeiramente sugerido que candidatos com perfil técnico e neófito na atividade política são os preferíveis do eleitor. Tal raciocínio é verdadeiro?
Howard Becker, em sua clássica obra Outsiders, revela que existem indivíduos que fogem do padrão característico de um grupo. Por exemplo: todos no grupo jogam futebol nos finais de semana. Com exceção de X, que joga xadrez. Por assim ser, X é considerado um outsider. Portanto, o ator neófito na política é aquele que nunca disputou uma eleição, ao contrário dos outros membros do grupo. Acrescento outra característica ao neófito na política: a jovialidade.
Desde 2008 realizo e interpreto pesquisas eleitorais. Neste decorrer, constatei, em várias eleições, que competidores outsiders e com perfil técnico são os preferíveis do eleitor. Porém, as pesquisas também revelam que candidatos experientes e com propostas factíveis têm também a preferência da população. Além disto, o candidato jovem não é necessariamente visto com bons olhos por parte dos eleitores.
Um competidor pode ser outsider na disputa da eleição, ser experiente no exercício das atividades no âmbito da gestão pública e oferecer boas propostas ao eleitorado. Outro candidato já disputou várias eleições, tem experiência na gestão pública e não tem jovialidade (maduro). Ambos os candidatos têm chances eleitorais.
O que condiciona (conduz) os desejos do eleitor é a conjuntura. Pesquisas quantitativas e qualitativas buscam identificar os desejos do eleitor e as suas visões de mundo que estão no contexto atual. A interpretação dos dados das pesquisas é ato subsequente. Neste sentido, o eleitor pode desejar que o candidato a governador seja um outsider, tenha experiência na gestão pública e seja jovem. Ou o eleitor, diante de dada conjuntura, deseja um candidato com experiência na área pública, maduro e com boas propostas. Para este eleitor, não importa se ele já disputou ou não as eleições. Portanto, a compreensão adequada do contexto é que tornará inteligível qual tipo de candidato a maioria do eleitorado deseja.
Existe uma variável de fundamental importância na conjuntura que incentiva as escolhas dos eleitores. Tal variável é expressa através da seguinte indagação: quem apoia este candidato? O eleitor não faz, obrigatoriamente, esta pergunta. No entanto, quando o candidato apresenta ao eleitorado quem o apoia, ele oferta atalhos/referências para que as decisões dos eleitores sejam orientadas.
Se o competidor X é apoiado pelo governador Y, o qual finda o mandato bem avaliado, X tende a conquistar eleitores. Outra possibilidade: se Z é apoiado pelo presidente da República A e pelo ex-presidente B, ele tende também a conquistar votos. Portanto, eleitores tomam decisões com base em referências. Então, a escolha de um candidato outsider não é garantia de sucesso eleitoral. Apenas, a depender do contexto, a escolha adequada de uma estratégia inicial.