Boulos será eleito prefeito de São Paulo?

Por Adriano Oliveira – Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.

A melhor estratégia para Guilherme Boulos é nacionalizar a disputa em São Paulo. A melhor estratégia para Ricardo Nunes, atual prefeito, é municipalizar o pleito. Com a nacionalização, Boulos esconde os seus pontos fracos: 1) Não tem experiência na gestão pública; 2) No passado, “defendeu invasões”. Com a nacionalização, o candidato do PSOL trará Lula e se este estiver com razoável popularidade tende a trazer o debate entre lulismo versus bolsonarismo.

O prefeito de São Paulo está em situação aparentemente confortável. Segundo o Datafolha (Março/2024), 29% aprovam a sua gestão, 24% reprovam e 43% a consideram regular. Quando um gestor tem um regular alto, como é o caso de Nunes, as suas chances de sucesso eleitoral existem. Caso Nunes optem por nacionalizar a disputa, assim como insistem os seus aliados, as chances eleitorais do prefeito de São Paulo diminuem.

O Datafolha também revelou que o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro a um candidato a prefeito afasta 63% dos eleitores. O apoio do presidente Lula, 42%. Esta pergunta não é tão esclarecedora, pois, segundo também o Datafolha, 60% concordam que o voto a prefeito pode trazer melhorias para o bairro em que mora. Este dado mostra aquilo que a Cenário Inteligência tem revelado em suas pesquisas qualitativas: o eleitor quer discutir a cidade na eleição municipal e não a eleição nacional. Estou sendo contraditório quando faço esta afirmação e defendo a nacionalização da campanha por parte de Boulos? Não!

Estratégias eleitorais são concebidas para tentar mudar os desejos dos eleitores ou fortalecê-los. O ponto forte do candidato do PSOL é o posicionamento ideológico, o qual é reforçado por Lula. Portanto, ele precisa forçar a presença da nacionalização na disputa municipal. O porto forte de Nunes são as entregas da sua gestão. Deste modo, ele precisa debater a cidade com os paulistanos.

Os erros de Nunes mantêm Guilherme Boulos como potencial candidato. O prefeito de São Paulo insiste em parecer bolsonarista, no pior momento do bolsonarismo. E talvez, mais dias piores venham para o ex-presidente. Como o gestor da capital paulista insiste em manter os políticos radicais bolsonaristas ao seu lado, inclusive na escolha de um vice, o competidor do PSOL tem chances de vencer a eleição com a nacionalização da disputa local.

Mas se a reprovação do governo Lula aumentar em São Paulo? De acordo com o Datafolha, o presidente da República é aprovado por 38% e reprovado por 34% (Março/2024). O porcentual de regular é de 28%. A diminuição da popularidade do governo Lula pode fazer com que o apoio de Lula seja tóxico fortemente. E isto acontecendo, Boulos terá que optar pela municipalização da disputa, assim como Nunes. Neste caso, o atual prefeito de São Paulo adquire favoritismo para vencer.

Se a estratégia ótima para Boulos é a nacionalização, isto não significa que ele terá que descuidar de debater a cidade. A eleição do psolista representa um choque para o ambiente social paulista. Boulos fez sua história defendendo o direito à moradia e a inclusão social. Ambos são problemas bem presentes na realidade de São Paulo. A estratégia de Boulos no âmbito municipal é: “De um lado, temos um prefeito que faz o básico, sem nenhum choque, mudança. Quero dar um choque na gestão de São Paulo. Quero construir um São Paulo para todos e todas”.

Vejo que a disputa entre Boulos e Nunes está, neste instante, indefinida. Ambos têm chance. Obviamente, a conjuntura importa, assim como as estratégias.