Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: pesquisas e estratégias.
É possível que o ex-presidente Jair Bolsonaro não dispute a eleição presidencial de 2026 em razão da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da ausência de força eleitoral. Desde que comecei a escrever sobre o bolsonarismo, sempre frisei que Jair Bolsonaro ganha força quando está em ambientes caracterizados por turbulência, como a Lava Jato proporcionou; e crises econômicas. Quando elas não estão presentes, Bolsonaro perde força. Portanto, sem tragédias, Bolsonaro é liderança frágil.
Pesquisa da Genial/Quaest divulgada em 21/06/2023 traz os seguintes dados relevantes: 1) 47% dos eleitores afirmam que o TSE deveria condenar Bolsonaro pelas falas sobre fraudes nas urnas. 43% discordam; 2) 33% afirmam que o apoio de Bolsonaro a um candidato a presidente aumenta as chances de votar nesse candidato. 41% frisam que diminui e 18% são indiferentes/não influencia. O que estes dados dizem e predizem?
Durante todo o mandato do presidente Jair Bolsonaro criou-se a expectativa extremamente positiva quanto à reeleição dele. Pesquisas diversas sempre revelaram, considerando os índices de aprovação e desaprovação, que o então presidente teria fortes dificuldade para conquistar novo mandato. O otimismo exacerbado para com a reeleição de Bolsonaro era injustificável. O medo por parte dos seus opositores também. Existiam muito mais evidências de que ele não reconquistaria a presidência do que o contrário.
Hoje, muitos seguem com grande otimismo, o qual também não se justifica, a não ser, como já frisei em outros artigos, ocorra a argentinização da economia brasileira. Tal cenário é bastante remoto, vide as recentes notícias sobre o desempenho presente e futuro da economia brasileira. Lembrando que em breve o novo arcabouço fiscal será implementado e a reforma Tributária, mesmo que não seja a ideal para a economia, deve ser aprovada. Portanto, olhando para o futuro, e este deve ser a função de analistas e estrategistas, o governo Lula tende a aumentar a sua popularidade.
Se a aprovação do governo Lula aumenta, a possibilidade de retorno de Jair Bolsonaro diminui. A citada pesquisa da Genial/Quaest revela que 56% dos eleitores aprovam o governo Lula e 40% reprovam. A maior aprovação está no Nordeste, 71%. E a menor na região Sul, 48%. Considerando a acirrada disputa entre Lula e Bolsonaro no 2° turno da eleição presidencial, observo que o estado atual do governo Lula entre os eleitores é razoável e não fortemente preocupante. Sabendo que notícias econômicas positivas virão à tona e que a argentinização da economia é cenário fortemente remoto, volto a afirmar: a aprovação do governo Lula tende a aumentar.
A pesquisa da Genial/Quaest também revela que: 1) 46% consideram que o Brasil está indo na direção certa. E 41% na direção errada; Para 32% a economia brasileira melhorou nos últimos 12 meses. Antes, eram 23%; 3) 38% frisam que a economia está do mesmo jeito. E 26% que ela piorou. Antes, eram 34%. O item 1 sugere que o governo Lula precisa fazer mais na economia e, claro, não se envolver em discursões morais, as quais fortalecem o bolsonarismo. Os outros itens apresentados são promissores para o governo Lula. Lembrando, mais uma vez, que notícias econômicas positivas devem vir à tona. Ou melhor: os sentimentos positivos dos eleitores para com a economia tendem a aumentar.
Volto ao início deste artigo. Se 33% dos votantes afirmam que o apoio de Bolsonaro aumenta as chances de votar em um candidato apoiado por ele, e o ex-presidente está fora do poder, é possível o declínio deste porcentual? Sim, pois, repito mais uma vez: existe a expectativa de melhoria da economia. Ressalto que 41% afirmam que as chances diminuem em votar num candidato apoiado por Bolsonaro. Não é arbitrário afirmar que 33% que pretendem votar num candidato de Bolsonaro são antipetistas e antilulistas. E 41% são antibolsonarista, mas não necessariamente, lulistas ou petistas.
Como o lulismo é fenômeno econômico, o desafio do governo Lula é aumentar a sua aprovação através do desempenho econômico do governo e reduzir os 33% que rejeitam o petismo e o lulismo. Missão impossível? Obviamente que não quando olho para trás e lembro que Lula deixou o seu último mandato, em 2010, com alta popularidade. Estou demasiadamente otimista com o governo Lula?
Escândalos de corrupção ameaçam qualquer governo e ocasionam a perda de eleitores. A Lava Jato aumentou e reforçou o antipetismo e o antilulismo. Antes dela, eles eram fortíssimo, em particular, o lulismo. Portanto, os desafios do governo Lula são claros: 1) Crescimento econômico; 2) E ausência de grandes escândalos de corrupção. Se estas variáveis estiverem presentes até 2026, o futuro do bolsonarismo, independente da decisão do TSE, não é promissor.