Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. 47 anos. Fundador da Cenário Inteligência. Autor do livro: Qual foi a influência da Lava Jato no comportamento do eleitor? Do lulismo ao bolsonarismo. Editora CRV, 2019. Dentre outras obras.
Li diversas explicações sobre os resultados das pesquisas eleitorais recentes. Todas elas me convenceram. A abstenção pode influir no resultado do pleito; eleitores, às vésperas da eleição ou até no dia, mudam o seu voto ou definem a sua escolha; e as amostras podem privilegiar, não intencionalmente, determinados segmentos econômicos e sociais.
As pesquisas eleitorais devem continuar a ser divulgadas e não podem ser criminalizadas. Contudo, os institutos de pesquisa mais a imprensa precisam mudar a forma de divulgação. A tradicional variável Intenção de votos, há tempos, não consegue decifrar a escolha do eleitor. A teimosia descredibiliza as empresas de pesquisas. A afirmação fortemente reverberada de que a pesquisa é retrato do momento, também.
As pesquisas erram porque os institutos e a imprensa insistem em divulgar com grande alarde a ineficiente Intenção de votos tradicional. O avanço de Jair Bolsonaro, o crescimento de Tarcísio de Freitas em São Paulo, e a queda de Marília Arraes em Pernambuco, são exemplos de que a histórica Intenção de votos não deve ser publicizada com tanta ênfase.
Em 2018, na eleição para o governo de Pernambuco, a Cenário Inteligência inseriu em seu questionário, as seguintes perguntas: 1) No próximo dia 02 de outubro, ocorrerá eleição para governador de Pernambuco. Você já escolheu o seu candidato? 2) Se Sim, quem é o seu candidato? (Espontânea); 3) Se Talvez, em quem você pensa em votar? (Espontânea)
As respostas obtidas criam dois grupos: Grupo 1: Eleitores que já decidiram o seu voto; Grupo 2: Eleitores indefinidos. São as respostas destes grupos que são apresentadas, primordialmente, ao cliente ou divulgadas para a opinião pública. Assim sendo, as possíveis manchetes dos jornais são: “No universo dos 52% de eleitores que já decidiram em quem votar, Fábio Carvalho (nome fictício) lidera com 36%”. Vejam que a manchete deixa claro que existem 48% de eleitores indecisos e que podem mudar o voto até o dia da eleição.
O grupo 02 permite que possamos decifrar a opção do eleitorado indeciso. Isto é: 35% dos eleitores estão indecisos. Neste caso, a chamada do jornal será: “Maria Eduarda (nome fictício) lidera entre os 35% que estão indecisos”. Observem que os dois grupos, quando monitorados em série, permitem a observação dos seguintes mecanismos: 1) À medida que mais eleitores declaram o voto, Fábio Carvalho consolida a sua liderança ou amplia a sua vantagem; 2) À medida que mais votantes decidem em quem votar, Maria Eduarda declina”. Portanto, com base nos dados coletados através de várias pesquisas, podemos afirmar, com tranquilidade, que Fábio Carvalho deve vencer o pleito eleitoral.
É claro que é possível chegar às vésperas do pleito com uma grande quantidade de indecisos (Grupo 02). Neste caso, a pesquisa revelará quem lidera a corrida eleitoral, mas diante de tantos indecisos, é possível que o resultado da urna possa ser outro. Ressalto que a pesquisa só é retrato do momento quando consideramos, apenas com o objetivo de decifrar os vencedores ou perdedores, a Intenção de votos tradicional.
Não são as pesquisas eleitorais que erram. Até porque, inerente aos questionários, estão várias perguntas que possibilitam ao analista, antecipar o possível resultado da eleição. É a intensa divulgação da tradicional Intenção de voto que conduz os institutos à descredibilização.