Por Adriano Oliveira – Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 39 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Escrevo este artigo inspirado no brilhante texto do filosofo Renato Janine publicado recentemente na revista Interesse Nacional (Abril – 2014). Janine aborda as agendas brasileiras, onde a primeira surge com o impeachment de Collor. O Plano Real motivou a origem da segunda agenda. E a inclusão social ocorrida na era Lula a terceira. As manifestações de junho de 2013 representaram para Janine a origem da quarta agenda.
Concordo com o raciocínio de Renato Janine até a terceira agenda. Pois não considero que as manifestações representaram a origem de outra agenda. O Brasil, desde o impeachment de Collor, sofre processo de transformação social. E neste processo, novos eleitores surgiram por razões demográficas e mudanças em suas respectivas visões de mundo.
O impeachment de Collor representou a origem da primeira geração de eleitores. Esta geração foi caracterizada pelo exercício da liberdade de manifestação após o período militar. A segunda geração de eleitores surge com o advento do plano Real. Os brasileiros conviviam com a incerteza econômica provocada pelo alto índice inflacionário. Com o surgimento do plano Real, os eleitores passaram a ter poder de previsibilidade quanto às capacidades de consumo e investimento.
A era Lula proporcionou a inclusão social de milhões de eleitores. Tal inclusão adveio da ampliação da rede de proteção social, da oferta de crédito, do aumento do nível de instrução, da redução do índice de desempregados, do aumento da renda e do consumo. A inclusão social caracteriza os eleitores da terceira geração.
As gerações de eleitores são caracterizadas pela aquisição de novas visões de mundo. Os eleitores adquiriram novos valores a cada geração, mas não perderam os já conquistados. As visões de mundo adquiridas pelos eleitores foram provocadas por eventos e ações das instituições. As denúncias da imprensa motivaram que os eleitores fossem às ruas em 1992. Surge a cultura do direito à livre manifestação. O plano Real foi uma a ação institucional que propiciou a cultura da estabilidade econômica. E as ações da era Lula geraram a cultura da oportunidade de bem-estar para todos.
Os eleitores da quarta geração estão presentes nesta eleição presidencial. Quem são estes eleitores? São os que desejam manter as conquistas das três gerações e estão descrentes com os partidos políticos e com a classe política. Estão também ansiosos, como diversas pesquisas presidenciais revelam, para que governos mostrem caminhos para a melhoria dos seguintes setores: saúde, educação, infraestrutura e segurança.
O descrédito para com os partidos políticos e a classe política não surgiu após as manifestações de 2013. Assim como as demandas por saúde, educação, infraestrutura e segurança. O descrédito e as demandas apresentadas sempre estiverem presentes no eleitorado brasileiro. Entretanto, ambos não foram atendidos satisfatoriamente pela classe política. Ao contrário das demandas por liberdade, estabilidade econômica e inclusão social.