Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. 39 anos. Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Sócio da Contexto Estratégia. Autor de variados artigos e livros sobre o comportamento do eleitor brasileiro. Dentre os quais: Eleições e pesquisas eleitorais – Desvendando a Caixa-Preta, Editora Juruá, 2012.
Eleições possuem enigmas? Sim. Alguns podem ser identificados. Outros custam a sê-lo. A última pesquisa Datafolha mostrou declínio nas intenções de voto dos candidatos Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Diante disto, as conclusões iniciais foram que a presidente Dilma continuava a cair. E o candidato do PSB não mais era um candidato competitivo. Aparentemente, as conclusões são verídicas. Porém, é importante revelar aparentes enigmas.
O perfil da amostra da pesquisa do Datafolha tem as seguintes características:
1. 42% dos entrevistados têm renda até R$ 1.448,00. Neste universo de eleitores, a presidente Dilma obtém 51% de intenções de voto. Portanto, no segmento de eleitores de maior dimensão no eleitorado, a candidata do PT tem ampla vantagem sobre os adversários;
2. 22% dos entrevistados têm renda entre R$ 1. 448,00 a R$ 2.172,00. Neste universo, a presidente Dilma obtém 20% de intenções de voto. O senador Aécio Neves conquista 25% do eleitorado. E o candidato Eduardo Campos, 23%. Dilma declina consideravelmente neste segmento de renda. E não é exagero afirmar que o candidato do PSB está empatado com Aécio Neves.
3. 16% dos pesquisados possui renda entre R$ 2.172,00 até R$ 3.620,00. O candidato do PSDB, neste universo, obtém 21% de intenções de voto. O ex-governador Eduardo Campos, 16%. E a candidata do PT, 14%. Nesta parcela da população, Aécio amplia a sua vantagem sobre os demais competidores. E a presidente Dilma tem desempenho semelhante ao do candidato do PSB;
4. 11% dos entrevistados têm renda entre R$ 3.620,01 até R$ 7.240,00. A presidente Dilma obtém neste espaço de eleitores, 9% de intenções de voto. Aécio conquista 17% e Eduardo 16%. Portanto, observamos o seguinte fenômeno: quanto maior a renda, menor o percentual de eleitores dilmistas. Além disto, a distância entre Eduardo e Aécio só é acentuada no segmento que possui renda entre R$ 2.172,00 até R$ 3.620,00.
A análise do desempenho dos candidatos através da segmentação da amostra, desvenda dois aparentes enigmas: 1) são os eleitores de menor renda que garantem, neste instante, as condições de sucesso eleitoral de Dilma; 2) Eduardo e Aécio continuam a disputar semelhantes universos de eleitores. Em razão desta disputa, surge a indagação: Eduardo tem condições de superar Aécio Neves?
O olhar segmentado das diversas pesquisas eleitorais realizadas este ano mostra que a disputa presidencial será caracterizada por forte clivagem econômica. Diante deste aparente enigma, indago: por que os candidatos da oposição ainda não escolheram como foco dos seus respectivos discursos os eleitores que garantem hoje a reeleição da presidente Dilma?