Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia.
No dia 05/07/2024, o Datafolha divulgou mais uma pesquisa de intenção de votos na cidade de São Paulo. Para mim, nenhuma novidade. Como já escrevi neste espaço, a melhor estratégia de Ricardo Nunes é a municipalização da eleição. A de Boulos é a nacionalização. A oportunidade do candidato do PSOL é bolsonarizar Nunes. A grande oportunidade de Nunes é dizer que Boulos não tem experiência para cuidar de São Paulo. A competente Tabata Amaral e Datena têm poucas chances. E Marçal atrapalhará Ricardo Nunes, mas não será candidato fortemente competitivo.
Aos poucos, a tese/hipótese da bolsonarização das eleições municipais perde força. Por várias vezes frisei que a eleição municipal será municipalizada. A eleição local é a eleição do remédio no posto de saúde, da rua calçada, da viatura da guarda municipal, da praça construída, do hospital que faz parto. O lulismo e o bolsonarismo têm influência secundária na disputa. Sendo o bolsonarismo força negativa no Nordeste e o lulismo força negativa no Sul e Centro-Oeste.
Na França, na eleição do último domingo (30/06/2024), o Reagrupamento Nacional obteve 33% dos votos. Esse resultado foi suficiente para surgirem afirmações de que existia uma onde de extrema-direita na Europa. No dia 05/07/2024 foi divulgado que o Partido Trabalhista britânico conquistou ampla maioria. E a direita foi derrotada. A tese da onda de extrema-direita perdeu força, ou melhor, foi falseada.
A tese corrente é de que se Trump vencer a eleição presidencial americana, a direita bolsonarista poderá vencer a eleição presidencial brasileira. Isto não é verdade! Trump foi eleito em 2016. Jair Bolsonaro em 2018. As razões da eleição de Jair Bolsonaro não incluem a influência de Trump. Se Trump for eleitor novamente, as relações Brasil e Estados Unidos poderão sofrer abalo. Todavia, isto não significa que a direita bolsonarista retornará à presidência da República em 2026.
Trouxe esses diversos exemplos para falar sobre análise de curto e longo prazos. A primeira não tem nenhuma relação com o futuro, não é preditiva. Ela tenta interpretar a realidade, mas não consegue enxergar o futuro. A segunda não. Ela interpreta o presente e vislumbra o futuro. Ambas requerem evidências para serem construídas. Todavia, a primeira enxerga até o muro. A segunda, vai além do muro. Sempre digo que as pesquisas de intenção de voto possibilitam análises de curto prazo. Em nenhum momento, elas sugerem o que poderá acontecer. São as pesquisas qualitativas mais a interpretação da conjuntura e a análise da história das eleições que permitem análises de longo prazo.
Generalizar uma conclusão em razão do resultado de uma eleição em dado país é muito perigoso. Cada nação tem as suas particularidades. Os votantes têm desejos e sentimentos diferentes. Os problemas de cada país não são semelhantes. Aqui no Brasil, o voto econômico importa. Assim como o voto moral. No Estados Unidos também. Mas a política internacional adotada pelo presidente americano influencia a opinião do eleitor. No Brasil, isto não acontece. Na Europa e na América, a imigração é pauta eleitoral. Aqui no Brasil não.
Proponho parcimônia na análise política. Sugiro que a intenção de voto não seja a única variável para a análise do comportamento do eleitor. Recomendo que as generalizações não sejam realizadas apressadamente. A particularidade de cada nação e eleição deve ser sempre considerada. As análises bem-feitas, as de longo prazo, contém previsão, decifram o futuro. As análises de curto prazo trazem interpretações equivocadas e não vislumbram o futuro.