A conjuntura é muito desfavorável, mas o presidente mostra resistência
Por Adriano Oliveira – Cientista político
A conjuntura brasileira continua, como esperado, turbulenta. Sempre gosto de lembrar as variáveis principais que as causam: 1) Pandemia do coronavirus; 2) Crise econômica; 3) Crise política; 4) CPI da Covid-19. Esta última é a mais recente e reforça as outras variáveis. Todas exercem forte pressão sobre o governo Bolsonaro e têm o poder de desestabilizá-lo.
O presidente Bolsonaro resiste. Se olharmos apenas para o ambiente midiático, a conclusão é óbvia: o governo está fraco politicamente. É um governo desarticulado. Não conseguiu, por exemplo, controlar, até o instante, minimamente, as ações da CPI da Covid-19. Por outro lado, ao darmos atenção ao eleitor, constatamos que a situação do presidente Bolsonaro não é desesperadora. Apesar de ser preocupante.
Pesquisa divulgada hoje (07/05) pelo Instituto Paraná, em parceria com a revista Veja, mostra que apesar da pressão, o presidente da República resiste. Ele hoje estaria no 2° turno da disputa presidencial. Em dezembro de 2020, a reprovação do presidente Bolsonaro era de 45,3%. Hoje ela é de 52,1%. A aprovação no último mês de 2020, estava em 50,2%. Neste instante, 43,8%.
Assim como outras pesquisas recentes revelaram, a popularidade do presidente Bolsonaro declinou e está estável. Mas tal declínio não é suficiente para verbalizarmos que a voz das ruas deseja o seu impedimento. Ou que ele não estará no turno final da disputa presidencial.
Por que o presidente Bolsonaro resiste? Três causas: (1) o bolsonarismo é fenômeno ideológico, (2) a força dos evangélicos, e (3) o antilulismo. Estas três variáveis impedem os vetores presentes na conjuntura, os quais foram apresentados, de adquirirem força maior para enfraquecer fortemente o presidente da República.
Neste instante, duas ameaças estão diante do presidente: 1) O conjunto das variáveis – Pandemia, crises econômica e política, CPI da Covid-19; 2) O seu estilo de ser, o qual é caracterizado pelo confronto e radicalismo. Segundo a jornalista Bela Megale, Carlos Bolsonaro voltou a orientar a comunicação do governo. E ele tem defendido a radicalização. Esta é a estratégia ótima?
Lembro do ensinamento do cientista político Moisés Naím, em seu livro O Fim do Poder: o exercício do poder gera poder contrário. O radicalismo do presidente da República, há tempos, cria reações. Até o instante, para a sorte do presidente, elas não são suficientes para lhe inserir numa conjuntura fortemente desfavorável.