A pressa não faz bem a análise
Por Adriano Oliveira – Cientista Político
A pressa é inimiga da análise eleitoral. A coerência é necessária para a análise inteligível do comportamento do eleitor. Os porcentuais importam, mas eles surgem em razão de o eleitor estar inserido no contexto social. Estas três assertivas devem fazer parte do raciocínio daqueles que desejam interpretar as pesquisas eleitorais. Se elas não estiverem presentes, análises equivocadas surgirão, e, por consequência, estratégias ineficientes serão criadas.
A CNT/MDA divulgou pesquisa sobre as eleições presidenciais realizada no período de 7 a 10 de julho. Antes desta pesquisa, duas outras foram divulgadas, as quais já mostravam o que esta pesquisa evidenciou e consolidou. Para a minha surpresa, muitos apressados frisaram que Dilma perdeu popularidade. Outros enfatizaram que Dilma não tem condições de ser reeleita. E muitos exaltaram o crescimento de Marina, Aécio e Eduardo.
A pesquisa realizada pela CNT/MDA comprova o que já foi anteriormente mostrado por outros institutos. Ela não trouxe nenhuma novidade. As manifestações sociais ocorridas em várias capitais brasileiras, a cobertura delas por parte da mídia e o mediano pessimismo econômico de parte do eleitorado motivaram a queda da popularidade de Dilma e revelaram o que eu há muito tempo já frisava: Dilma tem frágil favoritismo para vencer a disputa no primeiro turno da eleição presidencial de 2014.
Mas frágil favoritismo não significa que Dilma tende a perder a eleição. Além disto, não é por conta de que 44,7% (CNT/MDA) dos entrevistados não votam na presidente de jeito nenhum que ela perderá a eleição. Antes das manifestações, variados analistas e petistas afirmaram que Dilma venceria a eleição no primeiro turno. Ali estava presente a análise apressada. E hoje tal tipo de análise continua presente.
Se Dilma em 60 dias perdeu popularidade, qual é a razão dela não se recuperar em período semelhante? Quais contextos surgirão que podem influenciar ou não as escolhas dos eleitores? Novos protestos, semelhantes aos de junho, ocorrerão? Existe desejo de mudança por parte do eleitor? Se sim, já existe algum candidato que canaliza tal desejo? A neutralidade discursiva é a melhor estratégia para enfrentar Dilma/Lula? A melhor estratégia da oposição é o forte ativismo oposicionista discursivo?
Não desprezo os eventos que podem estar por vir. São eles que provocam os eleitores. Os porcentuais dos competidores não nascem do nada. Eles têm origem. Portanto, neste momento, a prudência é necessária, pois o que mais importa é o que estar por vir. Neste caso, estou atento ao otimismo do consumidor. Estou atento quanto à eficácia ou não das recentes ações de Dilma. Estou atento aos rumores de que Joaquim Barbosa e José Serra poderão ser candidatos.
Presto atenção à neutralidade do governador Eduardo Campos quanto à Dilma/Lula. Considero como fator relevante o crescimento de Marina Silva nas últimas pesquisas. E estou curioso para verificar se Aécio conseguirá se aproximar das classes C e D, em particular da região Sudeste. Portanto, não tenho pressa para construir vereditos eleitorais.