Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência. E autor da obra Qual foi a influência da Lava Jato no comportamento do eleitor? Do lulismo ao bolsonarismo. Edutora Juruá, 2019.
Entre 1994 a 2018, o PSDB polarizou com o PT na eleição presidencial. Em 2018, esta polarização foi quebrada pelo então candidato Jair Bolsonaro. Apesar da intensa Lava Jato, o PT continuou como polo de polarização. Deve-se entender como polarização eleitoral a presença de dois polos contrários, assimétricos. Ambos têm narrativas diferentes para o eleitor.
Como a eleição no Brasil tem dois turnos, a polarização é algo natural. Em qualquer eleição com segundo turno, a polarização acontecerá. Esta obviedade falseia a tese de vários políticos e analistas de que é necessário quebrar a polarização no Brasil na vindoura eleição presidencial. A tão propalada polarização tende a permanecer, o que pode ocorrer, é a mudança de atores.
A polarização entre PT e presidente Jair Bolsonaro é, neste instante, plausível. É claro que o enfraquecimento da popularidade do presidente da República poderá evitar que ele chegue ao turno final da disputa eleitoral. O PT está, aparentemente, em situação confortável, principalmente em virtude da possível, mas não certa, candidatura do ex-presidente Lula. O declínio do presidente Bolsonaro fortalece as chances do candidato do Centro em polarizar com o PT.
Dois tipos de polarizações existem no Brasil atual: a negativa e a positiva. A primeira é caracterizada pela desconstrução virulenta do oponente. Este é considerado inimigo. O opositor não é visto como possível aliado. Na polarização positiva, não existe inimigo. Mas adversário. A desconstrução do oponente não é virulenta. E o opositor pode ser futuro aliado.
A polarização negativa entre PT e o presidente Bolsonaro está hoje presente. Contudo, se, hipoteticamente, o PT não disputar a eleição presidencial de 2022, a polarização negativa continuará a existir. Quem cria a polarização negativa é o bolsonarismo. Não existe adversário para o bolsonarismo. Mas inimigo político que precisa ser banido, eliminado. O bolsonarismo é fenômeno majoritário. Não aceita o diálogo, a convivência com o diferente. Relega a política e as instituições. O bolsonarismo crer que apenas Jair Bolsonaro pode conduzir o Brasil para o futuro. Sem ele, o país não tem solução.
Os governadores João Dória e Eduardo Leite são inimigos do bolsonarismo. Os governos estaduais e Rodrigo Maia são outros inimigos. O bolsonarismo não polariza apenas com o PT. Ele polariza negativamente com qualquer um que contrarie os desejos do presidente da República ou o ameace eleitoralmente. O bolsonarismo é o responsável pela oxigenação da polarização negativa, independente de qual seja o adversário. Ou melhor: o inimigo político.