Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Pernambuco.
A última pesquisa da CNT/MDA traz dois dados relevantes:1) 50,8% dos votantes afirmam que a pandemia prejudicou muito o governo Bolsonaro; 2) E 53,7% que o presidente Bolsonaro prejudicou a campanha nacional de vacinação contra a Covid-19. Ambos os resultados são reveladores das estratégias de Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula na campanha eleitoral.
Sempre insisto na premissa de que a variável Intenção de voto explica e prediz fracamente o futuro da escolha dos eleitores. É por isso, que, geralmente, escutamos a frase de que “pesquisa é retrato do momento”. Discordo. Pois, se ela é apenas isto, deve-se admitir que a previsão eleitoral não faz parte da função da pesquisa quantitativa. Porém, se a pesquisa quantitativa for além da intenção de votos e interpretada em conjunto com a pesquisa qualitativa, as pesquisas adquirem poder de previsão.
Os dados apresentados sugerem que o presidente Bolsonaro terá como estratégia ótima, dentre outras, culpabilizar a pandemia pelo desempenho do seu governo. Em particular, o estado atual da economia. Ele dirá que se não fosse a Covid-19, os resultados econômicos da sua gestão seriam bons. Neste caso, inflação e combustíveis altos não existiriam. Dirá também que a era Lula foi propiciada pela sorte, e não pela competência do PT. Isto mesmo. O presidente-candidato atacará sempre o PT, e não o Lula, pois o primeiro tem forte rejeição nos votantes, como bem sugere as pesquisas qualitativas.
Contudo, 53,7% dos eleitores frisam que o atual presidente da República prejudicou a campanha nacional de vacinação. Este dado enfraquece a narrativa bolsonarista exposta. Pois, os competidores da oposição, em particular, o ex-presidente Lula, dirá que Jair Bolsonaro é negacionista, não se vacinou, que demorou a comprar vacinas e que não apoiou a vacinação de crianças. Estratégia ótima do líder do PT.
O que a recente pesquisa da CNT/MDA sugere é que duas narrativas devem estar presentes na disputa presidencial. Uma prol Bolsonaro, a qual, e isto é uma hipótese, tem poder de conquistar adeptos. E a da oposição, a qual também tem o poder de alavancar apoiadores. Qual narrativa vencerá?
Ao observar apenas a opinião dos eleitores sobre a economia do país, 16,8% consideram que a situação econômica do país melhorará em 2022; 36,7% em 2023; e 23,7%, a partir de 2024 em diante. Dados absolutamente previsíveis. Pois as pesquisas sempre revelam um eleitor brasileiro otimista. Mas esses dados mostram ambiente propício para Lula e Bolsonaro. Pois, o presidente candidato à reeleição dirá que “após a Covid-19, o Brasil voltará a crescer”. E o candidato do PT enfatizará que “com ele, o Brasil cresceu”, que Bolsonaro não soube comandar o país durante a pandemia e que o futuro do Brasil, pós Covid-19, é promissor.
Portanto, o presidente Bolsonaro tem estratégias ótimas para recuperar popularidade. Assim como o presidente Lula tem estratégias eficientes para vencer a eleição no 1° turno. Neste instante, apesar da intenção de voto de um conjunto de pesquisas revelar favoritismo do ex-presidente Lula, recomento parcimônia e monitoramento, pois eleitores são fluídos e reagem a narrativas.