Por Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência
Começa a nova temporada das pesquisas eleitorais em razão da aproximação da eleição municipal. São variadas as pesquisas que trazem os candidatos que supostamente são favoritos a vencerem a disputa. A disputa se resume ao indicador intenção de votos. Lembro: a opinião pública é líquida.
É demasiado e equivocada a preocupação exagerada dos candidatos com a intenção de voto. A ditadura quantitativa da eleição está presente. Competidores, analistas e imprensa têm olhos exclusivos para a porcentagem e relegam os desejos e sentimentos dos votantes. O mundo é demasiadamente quantitativo. É viável interpretar o presente e desvendar o futuro com a exclusiva abordagem quantitativa? Não.
O que impede os candidatos e a imprensa de realizarem pesquisa qualitativa é a ausência de números e o total de entrevistados. É a pesquisa qualitativa que tem a função meritória de evidenciar as causas das porcentagens. Por exemplo: O prefeito Antônio é reprovado por 60% da população e tem 25% de intenções de voto. Este dado quantitativo representa a caracterização da realidade. Todavia, o que é importante hoje são as razões da reprovação do alcaide Antônio.
Não é dado relevante descobrir a intenção de votos dos candidatos. Ao contrário dos desejos e sentimentos dos votantes para com a gestão, os principais competidores, a cidade e o futuro. É a quantidade de pessoas entrevistadas que coloca a intenção de voto no topo das prioridades dos candidatos e da imprensa. Na pesquisa qualitativa, com o uso da técnica entrevista em profundidade, o total de entrevistados está em torno de 15 a 100, a depender do tamanho do eleitorado. Na quantitativa, as amostras, geralmente, são acima de 500 inquiridos.
Na pesquisa qualitativa existe a saturação empírica dos dados: à medida que mais pessoas são entrevistadas, várias opiniões sobre A e B e as causas delas tornam-se semelhantes. Geralmente, a depender do tamanho do eleitorado, a partir de 15 entrevistas, a saturação empírica é encontrada. Na pesquisa quantitativa, existe a margem de erro, a qual tem função semelhante à saturação empírica no controle da confiabilidade dos dados.
Mais uma eleição com disputas entre os institutos de pesquisas: os que mais acertam e os que menos acertam. Tal competição os descredibilizam. E os transformam, equivocadamente, nas razões da derrota do candidato que há muito tempo liderava a disputa.