Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisa qualitativa e Estratégias
A direita insiste em ser bolsonarizada. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e não candidato a prefeito, vale salientar, anunciou coronel Mello Araújo, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, como candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes. Por que bolsonarizar uma eleição municipal, onde o ex-presidente Bolsonaro tem rejeição de 61%, de acordo com o Datafolha? A explicação simplista e equivocada é que Nunes não pode perder o eleitor bolsonarista.
A entrada de Pablo Marçal na disputa pela prefeitura de São Paulo é outro argumento para o prefeito de São Paulo insistir numa campanha bolsonarizada. Mais uma vez, a justificativa é equivocada: Com Mello Araújo na chapa, Ricardo Nunes não perderá eleitores bolsonaristas para Marçal. Uma pergunta que deve ser feita por Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes: Com o apoio de Bolsonaro, quantos eleitores o prefeito perde?
Todas as pesquisas qualitativas realizadas pela Cenário Inteligência em várias cidades do Brasil revelaram que a eleição para prefeito será municipalizada. Isto significa que eleitores querem saber se o futuro prefeito melhorará a cidade ou seguirá melhorando. Isto não significa, contudo, que lulismo e bolsonarismo não podem orientar a escolha do eleitor. Todavia, ambos não são fatores determinantes. A estratégia ótima para prefeitos candidatos à reeleição é debater o presente e o futuro da cidade.
Existe o raciocínio equivocado de que a direita não tem vida sem Bolsonaro. O bolsonarismo é maior do que o antilulismo? Essa pergunta leva em consideração a seguinte hipótese: Eleitores votam em Bolsonaro em razão de rejeitarem o Lula e o PT. E não são, obrigatoriamente, bolsonaristas. A tese é: bolsonaristas são antilulistas e antipetistas. Mas antilulistas e antipetistas não são, obrigatoriamente, bolsonaristas. Um candidato a presidente bolsonarista atrairá a rejeição de Bolsonaro.
Jair Bolsonaro não tem a confiança do sistema. Defino sistema como o conjunto de instituições formais que regulam e conduzem os cotidianos social e institucional. O presidente Lula tem a confiança do sistema. Bolsonaro não tem a confiança do sistema em virtude de que ameaçou a democracia e não aceita conviver civilizadamente e respeitosamente com o sistema. Lembrem do início do governo Bolsonaro!
O primeiro inimigo de Bolsonaro foi o Parlamento. Como não conseguiu obter sucesso com o conflito, optou por ceder e aceitou as regras informais presentes na relação Executivo e Legislativo. Em seguida, o então presidente Bolsonaro atacou a democracia e o Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro estressou o sistema até o último minuto. Deste modo, o sistema não confia em Bolsonaro, pois a volta dele ao poder pode representar o retorno do estresse ao sistema. Simples: Caso Bolsonaro volte a ser presidente da República, ele tentaria enfraquecer, mais uma vez, as instituições e a democracia?
Um candidato apoiado por Bolsonaro a presidente da República poderá obter a desconfiança do sistema. Desta forma, o Lula ou o candidato do lulismo, seguirá sendo a melhor opção para as instituições, já que este não estressa o sistema. E será também a melhor opção para parcela do eleitorado, caso o governo Lula esteja com razoável ou ótima avaliação.
A miopia da direita não está apenas na bolsonarização, mas na insistência de não incluir os pobres no seu discurso econômico. A tecla da direita é única: controle do gasto público. Não que isto não seja necessário. Mas os pobres querem saber claramente o que governos podem fazer por eles. Portanto, falta a direita discurso social, o qual é, até hoje, pauta exclusiva da narrativa lulista. Não basta a direita a pauta moral para vencer eleição presidencial.